20 junho 2006

O REPÓRTER MESMO AO LADO DO ACONTECIMENTO

Já não tenho a certeza se era mesmo a TSF que gostava de publicitar um seu slogan intitulado o repórter em cima do acontecimento. Se não era a sério, então seria a brincar, com Hermann José a parodiar o estilo de repórter arfante, em cima do acontecimento e sem qualquer discernimento. Actualmente parece que o estilo se transmitiu a toda a comunicação social e hoje, dia 20, pareceu andar mesmo por aí à solta.

Basta ler os postes que por aqui tenho publicado para compreender que considero que este governo está tão bem municiado de assessores de imprensa que bem dispensa a inserção de mais um post em que saia em sua defesa. Mas, como acontece frequentemente em certas notícias, e contrariamente aos velhos filmes de índios e cow-boys, há algumas em que os maus estão dos dois lados.

Por exemplo, irrita a forma como está a ser publicitada uma notícia, veiculada pela Lusa e extraída de um relatório do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), segundo a qual os medicamentos sem receitas são mais caros fora das farmácias. De alguns trechos do relatório, inseridos numa notícia de jornal, temos:

"A informação disponível aponta para o aumento generalizado dos preços dos Medicamentos Não Sujeitos a Receita Médica (MNSRM) face ao período prévio à liberalização", salientando-se ainda que "os preços de venda ao público nestes novos estabelecimentos são, na generalidade, superiores aos preços praticados nas farmácias".

Eu aprecio redacções visivelmente redondas, especialmente quando insinuam aquilo que não afirmam. Afinal, conclui-se do que se escreveu, não se fez qualquer levantamento nem verificação de preços, havia era uma informação disponível (disponibilizada?) que apontava (também se poderia dizer indiciava) para um aumento generalizado dos mesmos.

Assim redigido, se houver reacções demasiado violentas por parte do ministério – como de facto veio a haver – refutando com tabelas de preços e números índices, ainda há folga para se poder compor o ramalhete, desdizer o que se não disse, e – porque não? – ainda culpar os jornalistas de – como é costume – terem percebido tudo ao contrário.

Mas, sobretudo, o que aborrece mais é a descoberta de (mais) um mau trabalho noticioso. Tem toda a relevância jornalística informar o público, ao mesmo tempo que se dá relevo ao seu relatório, que quem preside ao tão referenciado OPSS* se chama Constantino Sakellarides, uma veneranda figura do PS para a área da saúde, rival do ministro, Correia de Campos, que aliás, aproveitou este mesmo dia para lhe apresentar a demissão…

* Informação imediatamente disponível no site do OPSS.

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