25 agosto 2022

SUNAK E AS RESPONSABILIDADES PELOS EXAGEROS DA PANDEMIA

Antes de tudo identifique-se Sunak. Rishi Sunak é um deputado conservador britânico que foi chanceler do Tesouro do governo de Boris Johnson até se demitir com outros em princípios de Julho deste ano, gesto que precipitou a queda do próprio Johnson. Sunak está agora em campanha interna, dentro dos conservadores, para suceder a Johnson (as eleições são no próximo dia 5 de Setembro), o que para mim constitui explicação bastante para ele ter produzido a afirmação que lhe lemos acima, num artigo do The Guardian, a de que foi um erro "dar poder" aos cientistas durante a pandemia da Covid. Deixem-me dizer-vos que, em minha opinião, Sunak está redondamente enganado. O que aconteceu foi que "a ciência", no caso a opinião de alguns, mas apenas alguns cientistas, foi selectivamente escolhida e publicitada pelos políticos durante a pandemia para dar satisfação ao que pareciam ser os receios dos segmentos mais crédulos, mais vocais e sobretudo mais hipocondríacos(...) da opinião pública. O padrão do comportamento dos políticos - à escala mundial, António Costa foi só mais um - foi o de se recusarem a assumir os riscos de adoptarem medidas mais contidas e menos exuberantes, por muito que elas fossem as recomendações da ciência mainstream, com o receio de se confrontarem com as acusações de uma opinião publicada que vivia do esplendor da crise. Já se esqueceram das pressões internacionais que incidiram sobre a Suécia, cujo governo adoptou um comportamento moderado? O papel conjugado do alarmismo da comunicação social e da falta de coragem política dos responsáveis é que teve por consequência uma miríade de restrições disparatadas, sustentadas em pareceres científicos conformes (esses arranjam-se sempre...). Quanto ao apetite da comunicação social por crises sanitárias de grande repercussão, ele pode ainda agora ser constatado na volúpia como se acompanham episódios secundaríssimos como a varíola dos macacos que parece estar em vias de ser substituída por uma febre do tomate que acabou de eclodir na Índia... Reconheça-se, apesar de tudo, que Rishi Sunak tem aqui o mérito de questionar o exagero que constituíram as medidas de reacção à pandemia, embora queira capitalizar agora as simpatias de uma opinião pública que acabou saturada de tanto exagero em medidas profilácticas. Mas enganou-se completamente no diagnostico dos responsáveis. Não por acaso, ele faz parte de um dos grupos culpados (os políticos) e dá a sua opinião utilizando-se do outro (a comunicação social). A ver se, para além de Sunak, há mais quem queira voltar ao assunto...

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