É conhecida a proverbial dificuldade em arranjar assunto para preencher as páginas noticiosas do mês de Agosto. Para solucionar esse vazio, em 14 de Agosto de 1962, o Diário de Lisboa socorria-se de uma missão espacial soviética, que se compusera de duas naves espaciais tripuladas (Vostoks 3 e 4) que haviam sido lançadas quase em simultâneo para o espaço, o que constituía um feito inédito até então. A imagem acima mostra o alargado espaço que o jornal dedicava em primeira e última página a esse acontecimento. Isso seria aceitável, não fosse o facto de que muito desse espaço era preenchido com especulações que se verificou depois serem descabidas: a) haviam sido «captados sinais de um possível Vostok 5» que nunca existiu; ou então b) «as duas naves espaciais podiam ter-se tocado», mas nunca se tocaram, o mais próximo que estiveram seria a 6,5 km uma da outra. Nenhuma das naves - a fotografia de uma delas, inclusa no artigo, era uma completa invenção! - tinha capacidade de manobrar autonomamente no espaço, para se que de pudessem aproximar. Muito menos que os cosmonautas a bordo «transbordassem» de uma para a outra nave. Tratava-se tudo de especulações para «encher»... e entreter. Porque está a decorrer a guerra na Ucrânia, ocasião em que se mente mais do que muito, esta é apenas mais uma chamada de atenção para recordar que aquilo que aparece publicado nos jornais e aquilo que é verdade pode divergir substancialmente, especialmente quando a falta de transparência e de assunto estimula as imaginações.
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