23 agosto 2022

SANTOS E PECADORES E... INCOMPETENTES

Parece-me evidente que o major-general Agostinho Costa foi à CNN dizer mais coisas para além daquilo que foi destacado em rodapé pela estação. Mas também disse que o «assassinato de Darya Dugina mostra que a Ucrânia está a alargar a sua forma de fazer guerra». Como já aconteceu por múltiplas vezes no passado, o major-general Costa mostra uma firmeza de opinião que não assenta em igual firmeza na forma como se documenta para opinar. Depois saem-lhe estas afirmações que são disparatadas e inconsequentes. Se este género de operações clandestinas são formas de "fazer guerra" então a Rússia está em guerra há muitos anos. Está em guerra com o Reino Unido desde 2018, por exemplo, quando montou uma operação para liquidar um desertor dos seus serviços secretos que se refugiara naquele país (Caso Skripal), operação essa que o atingiu não só a ele, mas também à filha. Como se percebe, isto das filhas serem vítimas colaterais dos atentados não é de agora. E descobre-se, retrospectivamente, que, pela perspectiva do major-general Costa, a própria Rússia já havia alargado a sua forma de fazer guerra à Ucrânia já em Setembro do ano passado (2021), cinco meses antes da invasão, quando um assessor do presidente ucraniano fora vítima de outro atentado. Como se percebe por este caso mais recente do atentado que vitimou a filha do assessor de Putin, os assessores parecem constituir alvos excelentes para passar recados ao outro lado. Mas toda esta guerra de sombras, de tão óbvia, é só surpreendente que não houvesse despertado até agora a atenção do major-general Costa, que só a descobre quando é a Ucrânia a praticá-la. Afinal ele não precisa de armar-se em sonso e ingénuo, como é a função do ministro russo Sérgio Lavrov que agora proclama: «Não pode haver misericórdia para aqueles que organizaram, ordenaram e executaram o atentado» que matou Darya Dugina. Perdoa-se Lavrov porque aquilo é a função dele e porque é sempre chato ficar-se do lado que é o alvo deste género de operações clandestinas, como se constata, no Caso Skripal, pela famosa fotografia abaixo de Theresa May a cumprimentar protocolarmente Vladimir Putin na Cimeira dos G20 de Osaka em 2019. Mas o major-general Costa devia continuar a ser apenas uma opinião reconfortante para todos aqueles que ainda se dispõem a seguir a invasão da Ucrânia mas que continuam a gostar de ouvir boas notícias para o lado russo. Com facciosismo, mas ao menos com qualidade - que é o que lhe tem faltado.

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