21 agosto 2022

OS EXCESSOS DE BOA VONTADE PARA COM OS PALOPS

21 de Agosto de 1982. Esta notícia a respeito do restabelecimento do comércio do açúcar entre Portugal e Moçambique é sintomático de como, 7 anos depois das independências, a atitude portuguesa para o reatamento das relações tradicionais com as suas antigas colónias era voluntariosa, também um pouco complexada, mas podia ser, sobretudo, muito ingénua. Por detrás da (aparente) força da posição negocial moçambicana escondia-se uma indústria açucareira em completo descalabro, conforme se comprova pela passagem abaixo, extraída de um estudo recente (2021) sobre aquela indústria - na verdade, houve uma redução de mais de 90% da produção entre 1975 e 1992! Moçambique acabou dependendo de importações de açúcar dos países vizinhos... Pondo as arrogâncias contra o colonialismo de parte, a verdade crua é que era previsível em 1982 que Moçambique nunca estaria em condições de vir a satisfazer quaisquer quotas de um contrato «a longo prazo» com Portugal. Essa era a verdade, por muito que custasse às autoridades moçambicanas reconhecer que a saída dos portugueses tinha arruinado irreversivelmente, para além das suas capacidades, algumas das actividades económicas mais proeminentes de Moçambique. As autoridades portuguesas eram obrigadas a sabê-lo, para não andarem a perder tempo com estas fantasias. Em vez disso, subsistia este faz-de-conta, sustentado em complexos ideológicos e remorsos pós coloniais. 

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