25 de Fevereiro de 1980. Mesmo no caso (muito provável) que os leitores deste poste não percebam quase nada do que o militar no video acima está a dizer (está a falar em holandês), é provável que, se forem veteranos, reconheçam nas imagens aquela atitude típica dos militares que acabaram de dar um golpe de Estado e o anunciam solenemente à nação pela rádio e televisão. O golpe de Estado teve lugar há precisamente quarenta anos e no Suriname, um pequeno país da América do Sul (tinha então cerca de meio milhão de habitantes), antiga colónia da Holanda e que se tornara independente há pouco mais de quatro anos (cá em Portugal nem chegámos a dar muito bem pela cerimónia, porque andávamos por cá entretidos com as nossas tentativas de golpes de Estado: é que a independência do Suriname teve lugar em 25 de Novembro de 1975...). Nesse mesmo clima de coincidências, importa dizer que, se o 25 de Abril em Portugal ficou associado em 1974 aos capitães, o golpe de Abril de 1967 na Grécia foi protagonizado pelos coronéis, e ao (fracassado) golpe de Abril de 1961 na Argélia se deu o nome de putsch dos generais, este do Suriname, provavelmente por causa da pequenez e irrelevância do país envolvido, ficou para a história com o nome de golpe dos sargentos. Foram 16 e todos com divisas, os protagonistas da acção militar que derrubou o governo. As notícias da altura (abaixo) eram omissas quanto ao grau de violência e consequências de que se revestira essa acção militar. Mas não deixa de ser interessante a displicência como se noticiava a derrube de um regime cujas estruturas democráticas (pelo menos, formalmente) se haviam ido inspirar na antiga potência colonial. Ou seja, e para o Diário de Lisboa que publicava a notícia abaixo, se o golpe de Estado tivesse sido patrocinado por generais num qualquer outro país latino-americano, certamente teria sido um arrancar de vestes indignado contra as ditaduras militares, qual novo Pinochet; mas como havia sido patrocinado por sargentos, baixas patentes implicitamente de uma certa ressonância castrista, aí o militarismo até podia vir a revelar-se uma coisa interessante, esqueça-se lá essa coisa da legalidade democrática. Desconhecido no dia do golpe, o mesmo iria revelar a figura dp Fidel Castro local (ou então o Hugo Chávez, embora antes do Hugo Chávez), um sargento que tinha então 34 anos chamado Dési Bouterse. Mas essa é toda uma outra história. Mas, sempre que se fala do Suriname, recordo-me daquela ideia peregrina de alguns brasileiros, que reclamam da sua herança lusitana, e que clamam que, caso tivessem sido colonizados pelos holandeses, hoje seriam um outro país, muito mais desenvolvido. Quando confrontados com os factos, os brasileiros que encontrei a defender esta ideia peregrina nem sabem onde fica o Suriname (...faz fronteira com o Brasil), nem que o país constitui um exemplo concreto sul-americano daquilo em que consistiu a excelência do colonialismo holandês, e de como aquilo que defendem é um disparate: o actual pib per capita do Suriname é apenas 60% do brasileiro...
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