A propósito do furor em redor deste último sucesso dos
Deolinda (acima), lembrei-me dos anos em que a
minha geração chegou ao mercado de emprego (1984-85), quando as regras de austeridade do
FMI estavam de facto em vigor em Portugal e o organismo parecia representar muito mais do que uma
mera sigla de arremesso político. E de como eu, jovem recém-licenciado por uma Universidade que eu julgava ter algum prestígio (Universidade Católica Portuguesa), depois de alguns meses de entrevistas (e testes, estavam a entrar na moda os testes…), cheguei a equacionar seriamente a hipótese de aceitar um estágio numa respeitável empresa cuja remuneração mensal que me ofereciam (15.000$) equivalia a 78% do
ordenado mínimo nacional então em vigor (19.200$)… Como aliciantes complementares, especificavam-me que o
Passe (Social) me era pago à parte e que, além disso, podia almoçar diariamente na cantina…
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEifhPSeQDEslE6i3dlLY3uXAoNCW7iyjla5rhN-Uw3-9elC1CTckE4FMZq6HUh8JBzdmyDVbTiV7u1jnsiPzSXWMNtfdL2BbVEHS0TQQ9REzwyhUNYLe64dX-Ds4cot8h8azMH8GA/s400/Antes+do+Cr%25C3%25A9dito.jpg)
Os acasos fizeram com que acabasse por aceitar um outro emprego também em regime experimental mas melhor remunerado – não muito, mas onde me pagavam ligeiramente mais do que o salário mínimo… Explicando a diferença de atitudes, suponho que a fotografia acima espelhe o que mudou nestes 25 anos e que condicionará a forma como esta geração aceitará as contrariedades da vida. Tirada na década de 1970 nela se vê um trabalhador provavelmente pouco qualificado a contemplar sonhadoramente uma montra de electrodomésticos, engendrando a forma de comprar um. Mas, para isso, haveria que poupar porque ao contrário do que hoje acontece, a montra não está coberta de autocolantes promovendo facilidades de pagamento. Será atitude que
esta geração sem remuneração talvez não saiba compreender, tendo eles crescido habituados a ter tudo o que quisessem, pagando quando pudessem…
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDghSjkhdq23mL5yo23eEFKTKBO4LNW0k4SSfOl2lgdRxHCCpZKmFNgUrOAOTc8YlEtjG_g7LFA6J00CxjqeSQX0I3mZBhbxDn8_XZQrs19WJwgCfWXn6Fw22wfWy-RRnhIy7_6g/s400/Worten.jpg)
A sério e analisando
a letra da canção para lá dos aplausos e das
manipulações interpretativas, se se é escravo com estudos,
sem eles ser-se-ia então o quê?...
Muito bem.
ResponderEliminar:)))
Caro A. Teixeira,
ResponderEliminarNão concordo que as coisas estivessem assim em 1985.
Nessa altura, havia ainda poucos licenciados no mercado e era uma questão de tempo até se arranjar um trabalho adequado à formação.
Hoje, os filhos dos meus amigos estão quase todos emigrados (londres, bruxelas,berlim, barcelona, madrid, roma, marrocos, angola, moçambique).
Até com experiência há falta de trabalho.
O caso mais invulgar que conheço foi o do filho de uns amigos nossos que esteve 2 anos a trabalhar nos confins do deserto da Argélia, totalmente isolado (só ele, engenheiro, e um outro , mecânico).
E foi o trabalho que apareceu -- sempre sujeito a ser raptado pelos extremistas islâmicos, num fim do mundo.
Nunca Portugal teve tantos jovens com preparação e vontade de trabalhar.
Bem mais preparados do que a minha geração e sem as oportunidades que nós tivemos.