26 fevereiro 2011

WIKILEAKS EM PORTUGAL

Graças ao Expresso, deparamo-nos em Portugal pela primeira vez com as consequências práticas da acção da Wikileaks. Como aconteceu com outros casos no estrangeiro (veja-se, por exemplo, este caso no Brasil), a fuga incide em comunicações sobre assuntos de Segurança e Defesa, assuntos que normalmente nunca andam nas primeiras páginas da atenção mediática mas a que, pelos vistos, os membros da diplomacia norte-americana dedicam uma substancial parte do seu tempo…
Não deixa de ser um paradoxo que, por terem sido obtidas clandestinamente, as informações, que muitas vezes não passam da opinião daquele cuja comunicação foi interceptada e divulgada, adquirem um prestígio acrescido e amplia-se assim a divulgação das opiniões dos membros do aparelho diplomático norte-americano, do país cujos interesses afinal, é objectivo central da Wikileaks lesar. Concretamente, vejamos o que é que possuem estas opiniões do ex-embaixador americano de novo?
Que não impera a meritocracia nas ascensões nas carreiras dos oficiais das Forças Armadas? Se imperasse, seria uma excepção entre as grandes instituições nacionais... Que, como Ministro, Nuno Severiano Teixeira foi um totó? A responsabilidade foi de quem o nomeou para aquele cargo. Que a aquisição dos submarinos foi feita por questões de orgulho? Em matéria de opinião, há quem a tenha pior, que a causa última da decisão foi a necessidade do então Ministro Paulo Portas financiar o seu partido…
Aliás, como se vê acima, quando se tratou de aparecer na fotografia, os submarinos até deram origem a alguns paradoxos¹… Em contrapartida, o embaixador, por ignorância, comenta sem conhecer o sistema de armamento dos submarinos portugueses e, por parcialidade, diz outro disparate enorme quando critica a opção portuguesa pelas fragatas holandesas da classe Karel Doorman em detrimento das americanas da classe Oliver Hazard Perry - estas eram impingidas (e rejeitadas…) pelo Mundo fora…
Finalmente, e com a mesma frontalidade como estão a ser expostas, vale a pena recordar que o autor de todas estas opiniões, Thomas F. Stephenson (acima), foi um Embaixador político – e não de carreira – que terá sido nomeado para este cargo secundário em Lisboa como forma de agradecimento da Administração Bush pela sua contribuição financeira para as suas eleições. É sabendo isso que se torna um pouco inconsequente lê-lo criticando Rui Machete pela sua gestão dos favores políticos

O que não é a mesma coisa que afirmar que ele não tinha razão…

¹ A fotografia foi tirada no dia do baptismo na Alemanha do Submarino Arpão onde se vê o Almirante Melo Gomes, então Chefe de Estado-Maior da Armada, ao lado de Maria de Jesus Barroso Soares, a madrinha da embarcação. São conhecidas as relações não muito cordiais entre a madrinha do submarino e o padrinho da encomenda dos submarinos, Paulo Portas.

2 comentários:

  1. Uma das melhores maneiras de espalhar uma notícia, mesmo que não seja importante, é dizê-la em segredo. Alguém lhe dará importância.
    Embora aqui não haja analogia, lembro-me do Lótus Azul, p. 22.

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  2. Se acertei com a prancha do Lótus Azul do Tintin a que se refere concordo consigo que a analogia, a existir, é muito forçada.

    Aqui, uma opinião sincera, porque obtida de forma indiscreta, torna-se mediaticamente importante por isso. No caso que cita (mais uma vez, se acertei com a prancha...), um episódio trivial é mediaticamente empolado para que dali se crie um "casus belli".

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