15 março 2010

OITO CENTÍMETROS DE DISPARATES

O que há a realçar nestes dois vídeos sobre uma notícia do deslocamento do eixo da Terra na sequência do recente terramoto do Chile, é a normalidade da peça televisiva, a que não faltará até a entrevista ao cientista para explicar a matéria. Haverá quem esteja a ler o poste e ainda se lembre dessa notícia, que foi dada logo no princípio deste mês (a 2 ou 3 de Março) e que remetia, como chancela de qualidade, para a NASA como sua fonte. Mas também se tornou normal e, mais do que isso, típico da forma como estas notícias costumam ser geradas, que a notícia esteja afinal muitos centímetros distante da verdade

É que não foi observado nenhum deslocamento de oito centímetros no eixo da Terra, nem foi cronometrada qualquer redução de 1,26 microsegundos na duração do dia terrestre. O que se pode ler no site original (o tal da NASA...) é que houve um cientista chamado Richard Gross que usou um modelo matemático para calcular de que forma o recente terramoto poderá ter afectado a rotação do planeta. E que as conclusões dos cálculos preliminares usando esse modelo apontam para variações que poderão chegar a ser as dos valores mencionados nas notícias postas a circular entretanto pela informação mundial...

É preciso ter má-fé ou ser-se analfabeto para não se conseguir perceber que, antes de ser validado pela observação científica dos fenómenos que pretende reproduzir, qualquer modelo é… apenas um modelo, não é a realidade. Foi para validar alguns aspectos da Teoria Geral da Relatividade de Einstein, por exemplo, que o britânico Arthur Eddington esteve na ilha do Príncipe em 1919 para observar o eclipse total do Sol que aí teve lugar a 29 de Maio, cujas observações a confirmaram. Com o jornalismo actual as coisas passar-se-iam ao contrário: as manchetes anunciariam antecipadamente quais as observações de Eddington!

Por detrás da simplicidade televisiva, na verdade, o famigerado modelo de Richard Gross que produziu as alterações que todos anunciaram mas ninguém observou parece ser contestado… Mas, mesmo essa notícia não conseguiu fugir ao padrão geral e aparece redigida como se se tratasse de os alemães contra a NASA… Valerá a pena acreditar em alguma notícia de carácter científico?... Sobre notícias, lê-se na imprensa humorística o seguinte lema: Se não aconteceu… podia ter acontecido! Na imprensa científica será: Não é assim que acontece… mas contado desta maneira tem muito mais piada!...

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