24 março 2010

O MANGUITO DE KOZAKIEWICZ

Tanto quanto uma disputa entre atletas, a final de Salto com Vara dos Jogos Olímpicos de Moscovo em 30 de Julho de 1980 era uma disputa entre as grandes escolas daquela modalidade. Uma delas não estava presente (a norte-americana), por causa do boicote dos Estados Unidos aos Jogos, mas as outras três – francesa, soviética e polaca – viam-se com possibilidades de triunfar através de mais do que um dos seus atletas presentes na final. Os franceses através do recordista mundial Houvion, que roubara há um mês esse recorde ao seu compatriota Vigneron, outro pretendente ao título, os soviéticos através do consistente Volkov e os polacos com o campeão olímpico de 1976, Slusarski, e com um outro ex-recordista mundial (de dois meses atrás!), Kozakiewicz (abaixo).
A competição acabou por correr de feição aos últimos três. Politicamente tratava-se de (mais) uma vitória do Leste frente ao Ocidente. Os três eslavos colocaram-se nos primeiros lugares ao transporem a fasquia colocada a 5,65 metros de altura. Depois disso, tratava-se de uma disputa pelo lugar maior no pódio. Volkov jogava em casa e contava com o apoio da assistência a que se adicionava a tradicional hostilidade entre polacos e russos e que se manifestava de forma negativa quando os atletas polacos saltavam. Portanto, talvez mais recordado que a marca então obtida pelo vencedor, Kozakiewicz, 5,78 metros (e tratava-se de um novo recorde mundial!), o que perdurou para a história foi o seu gesto de desforra logo depois de ter transposto a fasquia que lhe deu a medalha de ouro.
O gest Kozakiewicza (como ficou a ser conhecido em polaco), e que não passa afinal do nosso tradicional manguito, ficou registado como um símbolo de que a política de blocos não conseguia esconder as antipatias nacionais históricas. Consta também que foi feita uma abordagem informal pelos soviéticos junto das autoridades polacas para que Kozakiewicz fosse de alguma forma repreendido pelo seu gesto de hostilidade para com o povo soviético mas que a posição oficial polaca na resposta fora a de o atribuir a um espasmo involuntário de esforço… Nesse mundo de hipocrisia, o gesto permaneceu desconhecido das audiências do Leste (fora a Polónia), como se pode ver mais abaixo no filme oficial da competição onde a cena foi truncada. Enfim. era a verdade a que se tinha direito...

Sem comentários:

Enviar um comentário