
Ao contrário do aristocrático Adams, que a custo se dignava explicar os seus méritos ao eleitorado, existia até uma espécie de lenda associada à carreira ascendente do popular Andrew Jackson (1767-1845). Nascera pobre, órfão de pai, perdera a mãe e irmãos muito cedo, e havia uma história sua de adolescente, associada ao período da Guerra de Independência, quando fora espancado à espadeirada por um oficial britânico por se ter recusado a engraxar as suas botas, deixando-o com cicatrizes nas mãos e na cabeça.
Mas, mesmo estes desastres, reforçavam a sua popularidade, comprovada nos resultados da campanha presidencial de 1824, que perdeu por uma unha negra. Andrew Jackson aparecia, como um verdadeiro filho não só do povo como do Oeste e da Fronteira, a região dos Estados Unidos onde a sociedade ainda não se encontrava estratificada. Era preciso conhecer essa sociedade para se compreender a forma como Jackson e a mulher abriram o baile em que se celebrou a reconquista de Nova Orleães em Janeiro de 1815 (**).
A sua tomada de posse, a 4 de Março de 1829, especialmente a festa marcada para a Casa Branca acabou por ser um acontecimento de arromba!! Muitos daqueles delicados adereços que haviam sido cuidadosamente reunidos por Louisa Adams e por algumas das suas antecessoras, como cristais, porcelanas, mobiliário, foram nesse dia partidos por uma turba de convidados que comeu e bebeu tudo o que havia à vista e ainda mais. O envergonhado Jackson acabou por ter de ir dormir a uma estalagem próxima…
Considerado como o fundador do actual Partido Democrata, o desempenho presidencial de Andrew Jackson tende a ser avaliado com alguma condescendência. Se, do ponto de vista ideológico, durante a presidência de Jackson se assiste à consolidação de um verdadeiro espírito democrático na América que seria então impensável do outro lado do Atlântico, do ponto de vista prático, essa mesma ideologia conduziu a erros graves como a oposição à existência de um banco central, que esteve por detrás do Pânico de 1837.

(*) Cerca de 130 anos depois, um outro popular e prestigiado general norte-americano pretendeu também tomar o assunto entre mãos e, copiando Andrew Jackson, ignorar as fronteiras, mas acabou sumariamente exonerado: Douglas MacArthur, durante a Guerra da Coreia (1950-53).
(**) “… o general era duma estatura desmedida, magro como um esqueleto; sua mulher era gorda como uma pipa; ambos saltavam como dois índios meio embriagados ao som duma melodia selvagem; esta dança era mais divertida de ver do que qualquer baile europeu!”
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