A descrição que se segue, consta da História Oficial Britânica da Primeira Guerra Mundial, e refere-se a uma passagem de uma acção que teve lugar em 8 de Agosto de 1916, em Guillemont, no quadro geral da grande ofensiva britânica que ficou conhecida pelo nome de Batalha do Somme:

A terminologia empregue é técnica, quem escreve distancia-se imenso do que está a descrever e o conteúdo dessas descrições é sóbrio, omisso, ou quando muito, discreto, quanto ao sofrimento humano entre feridos e mortos que esteve associado aquela acção. Para os seus registos, os militares raramente se referem às consequências sangrentas da sua actividade. Não são só os militares: um comunista empenhado como Vítor Dias adoraria usar o estilo de redacção acima para uma descrição de um episódio embaraçoso para a sua causa, como o da colectivização das terras na URSS sob Estaline na década de 1930. Claro que por detrás dessas narrativas pretensamente desprendidas, escapa sempre um ou outro pormenor que dão ao entendedor o indício da extrema violência que esteve associado ao episódio.

E é aqui que entra a minha analogia, pois também creio que todos atravessamos as crises económicas um pouco da mesma maneira como os soldados participam nas batalhas. Percebe-se que se atravessam momentos maus, vemos as vítimas que nos rodeiam, mas nada percebemos das causas que as provocam. Falemos, por exemplo, de uma crise atravessada pela economia norte-americana há 170 anos que ficou conhecida pela designação de Pânico de 1837. Considera-se hoje que foi uma crise económica induzida pelo sector financeiro. Sob a presidência de Andrew Jackson (1829-37, abaixo) o Governo Federal teve milhões de dólares de receitas resultantes da alienação das novas terras do Midwest a compradores interessados. E muitos dos que o fizeram, fizeram-no por especulação.

No caso do Pânico de 1837, a causa próxima da hecatombe financeira terá sido a aprovação de uma lei bancária, já durante a presidência do sucessor de Jackson, Martin Van Buren (1837-41 e que ganhou por causa disso a alcunha de Martin Van Ruin…) que obrigava a banca comercial a pagar os empréstimos que contraíra junto do governo em espécie (i.e. em ouro). Claro que houve bancos que não poderam cumprir... Adivinha-se o resto do que depois aconteceu ao sistema financeiro norte-americano, com notícias semelhantes às recentes do desaparecimento da Merrill Lynch & Co e da falência da Lehman Brothers Holdings Inc. Mas estas notícias que agora aparecem não passam da observação de soldado, do rosto da crise que se adivinha preparar-se para afectar toda a economia norte-americana. Tomará tempo, mas poder-se-á apurar depois quem terá sido o Andrew Jackson por detrás dela…

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