07 setembro 2008

O ESCRUTÍNIO

Assim de memória, entre as vitórias eleitorais esmagadoras de um dos concorrentes em eleições onde os eleitores pudessem ter efectuado uma escolha múltipla entre vários candidatos*, lembro-me das eleições presidenciais em Portugal em 1991, onde Mário Soares ganhou com 70% dos votos, das eleições legislativas de 2004 na África do Sul, onde o ANC ganhou com 70% dos votos, destas eleições legislativas angolanas de 2008, onde o MPLA lidera actualmente a contagem com 82% dos votos, das eleições legislativas portuguesas de 1969, onde a oposição concorreu mas a União Nacional de Marcelo Caetano ganhou com 88% dos votos, ou ainda as eleições legislativas cubanas de Janeiro deste ano, onde os candidatos das Listas Revolucionárias receberam 91% dos votos. Como se vê, teoricamente, parece não haver resultados impossíveis de se alcançar em eleições…

Na prática, concentrações de votos desta magnitude, por serem tão raras, levantam sempre desconfianças quanto às condições de liberdade em que decorreram as eleições, ou quanto às condições de equidade em que os concorrentes se puderam apresentar, ou ainda um somatório das duas causas. Claro que se podem sempre produzir explicações políticas para os resultados, como terá sido o caso da vitória de Soares em 1991, diante da ausência de um candidato do PSD que lhe fizesse frente. Fico a aguardar com serenidade o desenvolvimento do escrutínio em Angola, e como já aqui havia dito, creio que vou adorar as explicações políticas sobre os resultados que forem dadas no final, especialmente as dadas por quem entender que este acto eleitoral em Angola foi para ser considerado a sério… Para recordação e referência, lembre-se que há 16 anos o MPLA tinha recebido 54% dos votos e a UNITA 34%...

* Em referendos, o facto de só haver duas opções (sim ou não) torna mais comum que se atinjam maiorias significativas.

2 comentários:

  1. Na minha modesta opinião, e não advogando a favor ou contra a correcção das eleições angolanas, uma vez que não possuo dados concretos, penso que poderá não ser de estranhar uma grande disparidade entre o resultado do MPLA e da UNITA.
    Há 16 anos e saindo de uma guerra, as posições estavam muito bipolarizadas: ou se era a favor do MPLA, ou se era contra e a alternativa era a UNITA. Volvido todo este tempo, com a morte do líder da UNITA e com as eleições a terem lugar num contexto em que Angola está em franca expansão económica, de facto não me parece surpreendente que mesmo com normal funcionamento do sistema eleitoral angolano possamos testemunhar um resultado como aquele que se prevê.
    Cumprimentos.

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  2. Bom post, caro A.Teixeira.

    Quanto à legitimidade é à veracidade destas eleições ela não existe, sejam quais forem os resultados.

    Este regime não pode ser considerado democrático ou sério, a partir do momento em que passaram 16 anos sem eleições e agora vibdas do nada existem eleições.

    Nem sequer a questão da enorme e disparatada diferença nas percentagens sequer se põe.

    Em Portugal fechou-se os olhos a isto, porque o que interessa é negócios e ao mesmo tempo possibilitar a ida de portugueses para lá emigrados.

    Assim aqui a taxa de desemprego mantém-se "estável"- alta mas estável.


    Se se começa a criticar a democraticidade ( que não existe) do regime angolano, como é que se poderão recambiar portugueses para lá e como é que o BES e restante fauna poderá ganhar dinheiro corrupto?

    Por isso temos assistido a esta liturgia amável que passa por ser jornalismo e que passa por legitimar umas eleições que nada tem de legítimas.

    E partilho da sua ideia de que se irá adorar escutar as imbecis explicações feitas pelos contorcionistas portugueses do verbo a tentarem explicar o inexplicável relativamente a Angola.

    Dissidente-x

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