01 setembro 2008

AS GRAVATAS DA SOCIEDADE IDEAL

Não sei quem será o autor da felicíssima frase que classifica a gravata como um adereço absolutamente supérfluo tornando-se por isso num adorno importantíssimo. Dei por mim a magicar que numa sociedade ideal a gravata poderia ser o símbolo ideal da afirmação individual do indivíduo que a envergava. Na sociedade real, há quem se mostre moderadamente dissidente, envergando em vez delas laços distintivos (como são os casos de Nicolau Santos ou de Baptista Bastos) e há quem seja mais assertivo, excluindo-a da indumentária, como todo o segmento sociológico da intelectualidade e quase todo o segmento político da esquerda e da extrema-esquerda.

Mas uma observação atenta das gravatas que nos cercam é um indicador da sociedade que nos rodeia. Em vez de expressões de afirmação da personalidade de quem as enverga elas tendem a replicarem-se e a evoluir em conjunto nas formas (finas, médias ou em posta de bacalhau), cores (escuras, desmaiadas, berrantes) ou padrões (às riscas, às bolas, lisas ou com desenhos). Com o outro, com este, com o próximo governo, sempre foi assim e creio que sempre assim será. Eu até aprecio a ideia dele mas, quanto às intenções, porque é que só dará para José Pacheco Pereira clamar por uma sociedade lúcida, de gravatas personalizadas, quando o seu partido está na oposição e sem vislumbre de lá sair?...

2 comentários:

  1. Eramos meninos. Na escola, o professor criticou um colega meu pela forma como vestia. E o diabo do rapaz saiu-se com esta: «Ser hippie não é uma forma de vestir, é uma forma de ser». Onde é que o malandro foi buscar aquela, não sei. Mas na altura achei genial.

    Mal eu imaginava que a importância simbólica de uma gravata, devida ao significado que lhe atribuem os "professores de bons costumes", me faria rejeitar esse adorno para o resto da vida.

    Veja, estimado A. Teixeira, os efeitos insondáveis de um post na cabeça de um leitor.

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  2. É muito reconfortante receber um "feed-back" como esse.

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