Sempre me considerei muito inseguro quanto às regras que justificam a criação de uma nota de rodapé num texto. As notas normalmente deveriam ser comentários, explicações, especificações, aprofundamentos ou desenvolvimentos sobre o que está escrito no texto principal, mas não me é raro acontecer que o efeito do que contêm seja apenas o de me deixar perplexo.
Vejamos, um exemplo de Breve História do Tempo (acima) de Stephen W. Hawking, um livro que é de uma compreensão extremamente difícil logo de antemão. Numa passagem mais complicada a respeito de mecânica quântica (p. 102), explicando o recuo provocado pela emissão de uma partícula vemo-nos beneficiados pela explicação adicional em nota de rodapé do revisor: O “recuo” ou “avanço”, consoante a força seja repulsiva ou atractiva. Há uma ideia muito intuitiva sobre estas partículas portadoras de força. Imagine-se dois patinadores no gelo que seguem lado a lado e suponha que num dado momento eles decidem arremessar pedras um ao outro: separaram-se por efeito do recuo e, para um observador para o qual as pedras fossem invisíveis, tudo se passa como se eles se repelissem por intermédio de uma força. No caso dos patinadores se decidirem a arremessar bumerangues em vez de pedras, o efeito seria inverso, aproximar-se-iam como que sujeitos a uma força atractiva mediada pelos bumerangues.
Recordando o início da nota, e atendendo à complexidade da explicação que se segue, apenas pretendo dizer que eu e o revisor do livro não devemos compartilhar a mesma ideia do que seja uma ideia intuitiva…
Vejamos outro exemplo, no 20º e último volume da História Universal de Carl Grimberg (acima) onde se descreve a inflexão do regime cubano para métodos cada vez mais revolucionários em consequência da progressiva hostilidade norte-americana, como se concretizou em nacionalizações, prisões arbitrárias, perseguições contra a Igreja Católica e execuções sumárias (p. 183), a então até aí, discreta tradutora, resolveu inserir uma nota sua a respeito das últimas: De salientar que, após se terem apoderado do poder, os revolucionários cubanos não procederam a execuções sumárias mas, quando muito, a julgamentos sumários o que é bastante diferente. Nenhum dos executados o foi sem que a execução tivesse sido precedida de julgamento.
Ora bem, a intuição que faltou ao revisor da nota acima parece abundar a esta tradutora, a quem lhe falta, por sua vez, a objectividade analítica em excesso na redacção da nota acima. É que, mais do que as questões formais prévias de como se executa, gostaria de quantificar quantos casos de acusados de crimes passíveis de execução é que terão sido julgados nos tais julgamentos sumários, cuja pena não tivesse sido a confirmação da execução...
Recordando o início da nota, e atendendo à complexidade da explicação que se segue, apenas pretendo dizer que eu e o revisor do livro não devemos compartilhar a mesma ideia do que seja uma ideia intuitiva…
Vejamos outro exemplo, no 20º e último volume da História Universal de Carl Grimberg (acima) onde se descreve a inflexão do regime cubano para métodos cada vez mais revolucionários em consequência da progressiva hostilidade norte-americana, como se concretizou em nacionalizações, prisões arbitrárias, perseguições contra a Igreja Católica e execuções sumárias (p. 183), a então até aí, discreta tradutora, resolveu inserir uma nota sua a respeito das últimas: De salientar que, após se terem apoderado do poder, os revolucionários cubanos não procederam a execuções sumárias mas, quando muito, a julgamentos sumários o que é bastante diferente. Nenhum dos executados o foi sem que a execução tivesse sido precedida de julgamento.
Ora bem, a intuição que faltou ao revisor da nota acima parece abundar a esta tradutora, a quem lhe falta, por sua vez, a objectividade analítica em excesso na redacção da nota acima. É que, mais do que as questões formais prévias de como se executa, gostaria de quantificar quantos casos de acusados de crimes passíveis de execução é que terão sido julgados nos tais julgamentos sumários, cuja pena não tivesse sido a confirmação da execução...
:)
ResponderEliminar:)
É espantoso que uma tradutora insira opiniões próprias em conflito com as do autor que traduz. Destraduz, digamos!
ResponderEliminarFaz-me lembrar a arrogância com que alguns jornalistas em função de reportagem se permitem acrescentar juizos de valor pessoais, sobre o que era suposto ser mostrado. Não referem os factos, inferem as suas opiniões pessoais. E, no entanto, poderá dizer-se que "fazem o seu trabalho"!