31 de Dezembro de 1963 foi a data da dissolução da Federação da Rodésia e da Niassalândia, ocasião propícia para republicar no blogue este texto, referente às esperanças que se haviam depositado nessa estrutura política experimental britânica em África que hoje não passa de uma memória (esquecida).
A Federação foi um projecto político britânico criado após a Segunda Guerra Mundial e que se destinava a conceder um certo modelo de autonomia política a alguns territórios britânicos em África contornando as pressões para que as descolonizações se processassem da maneira mais convencional onde o poder fosse transferido para as elites africanas indígenas maioritárias. A ideia era criar condições para replicar o modelo da África do Sul, onde a população de ascendência europeia, ainda que minoritária (20%), o era substantivamente e atingia uma dimensão crítica (eram 2,5 milhões de sul-africanos brancos em 1950) para conferir estabilidade a um regime de supremacia branca.
A Federação foi constituída no centro da África meridional, entre Angola e Moçambique (ver mapa acima), reunindo as regiões que são hoje a Zâmbia, o Zimbabué e o Malawi (e que na época eram conhecidas por Rodésia do Norte e do Sul e Niassalândia). Quando foi fundada, em 1953, possuiria uns 6.850.0000 habitantes, dos quais apenas 2,5% (170.000) eram de origem europeia, e cerca de ⅔ destes últimos concentravam-se na Rodésia do Sul. A Rodésia do Sul era, naturalmente, o cérebro e a locomotiva do projecto. E a ideia não era copiar exactamente o modelo sul-africano, onde os africânderes haviam acabado de institucionalizar o apartheid, mas implementar um modelo de inspiração britânica, mais benigno. Contudo, a importação de mão de obra qualificada de origem europeia afigurava-se indispensável.
É no quadro desse ambicioso projecto que se pode compreender a notícia de jornal dessa época que insiro abaixo, onde se antecipava que nos 25 anos seguintes a Federação esperava receber um milhão de imigrantes europeus para a equilibrar demograficamente. Esse milhão de emigrantes europeus transplantados para o meio de África foi um projecto exuberantemente falhado e esquecido e que se chega a tornar cómico quando conhecido a 70 anos de distância, quando se conhece a continuação dos acontecimentos. Nunca os territórios africanos conseguiram despertar um interesse da imigração europeia à escala antevista pelos visionários do projecto da Federação. Os europeus emigrados preferiram outros destinos, sobretudo na própria Europa. A Federação durou dez anos (1953-1963), até que cada um dos seus membros seguiu o seu percurso distinto.
No final da década de 1970, ao fim dos tais 25 anos míticos da notícia acima, a população de origem europeia total dos três países separados cifrava-se em cerca de 350.000 pessoas, das quais mais de 80% se concentrava na então Rodésia do Sul, o único deles que ainda prosseguia em versão reduzida o projecto de supremacia branca. Também esse terminou em 1980. O número de brancos actualmente na região outrora concebida para receber um milhão deles cifrar-se-á à volta dos 75.000. Convém remexer de quando em vez nestes projectos neocoloniais britânicos fracassados para não se ficar com a opinião que as ambições coloniais anacrónicas só aconteceram connosco...