23 abril 2018

A NICARÁGUA, TAMBÉM ÀS VOLTAS COM AS TAIS REFORMAS ESTRUTURAIS

Aquilo que acabou de acontecer na Nicarágua tem a ironia adicional de ser protagonizado por Daniel Ortega, o tal sandinista rojo que tanto incomodou a administração Reagan nos seus tempos de ouro. Agora transformado em presidente com lugar cativo (como nos estádios de futebol), nem mesmo depois de 11 anos de poder ininterrupto e de escolher a mulher para sucessora, Ortega parece ser o dono da Nicarágua, e teve que recuar abruptamente com a implementação de uma reforma na segurança social que, como tantas outras por esse mundo fora, deverá precisar de ser financeiramente reequilibrada, mas cujos protestos sociais tornaram inviável. É nestas ocasiões concretas que se percebe quanto a retórica das reformas estruturais se reveste de uma leveza semelhante à do comportamento das bolhas do anidrido carbónico nas bebidas gaseificadas: quando expostas à superfície, fazem pop e desaparecem... Quando as reformas, por muito estruturais que se proclamem, se têm de fazer à custa de alguém, o que acontece na esmagadora maioria dos casos e por muito que os promotores sejam de governos de direita, de esquerda ou do centrão (como Macron está a descobrir à sua custa em França), aqueles que saem lesados com o que se reforma tendem a reagir negativamente. Chama-se a isso política. E a política em Democracia - mesmo numa democracia assim mais ou menos como a da Nicarágua - passa por convencer as pessoas. E aí a coisa tem falhado: não é por os iluminados as qualificarem de estruturais que as mais comuns das pessoas passam a acreditar na indispensabilidade das reformas. Tanto mais que se acumulam as provas de que há muitas outras áreas que precisam ser reformadas com tanta ou mais prioridade e em que não se mexe. Por cá também foi assim e também com a segurança social: ainda se lembram quando Pedro Passos Coelho tentou impingir-nos uma coisa dessas meio à traição em Setembro de 2012?

...é que, além de ter tido que recuar na medida, como agora o fez Ortega , mais de cinco anos depois, e com mais de 14.000 milhões já ali gastos e com a conta a aumentar todos os anos, percebe-se que prioridade mais prioritária devia ter sido o sector bancário, ao qual o governo de Passos Coelho prestou uma atenção muito relutante... a não ser quando passou a ser obrigado.

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