20 abril 2018

A MORTE DOS TRÊS MAJORES

20 de Abril de 1970. Se há dois dias se evocou a emboscada aérea que há 75 anos levou à morte do Almirante Yamamoto, hoje evoca-se, como se prometera, um outro episódio, vagamente semelhante, que conduziu à morte de três majores do exército português que, na Guiné, iriam parlamentar desarmados com um comando local do PAIGC, visando a rendição deste e a sua integração no quadro das autoridades coloniais. A morte dos três, conjuntamente com mais quatro acompanhantes (um alferes do exército português e três guias guineenses), pôde ser (e foi) razoavelmente reconstituída e aparece profusamente comentada em vários textos na internet (abaixo, o croquis do relatório oficial). Não se pondo a questão quanto à identidade dos autores materiais das execuções (os membros do comando que supostamente se iriam render), existe toda uma literatura especulativa a respeito das circunstâncias dessas execuções. Seria verdade que a rendição dessas forças locais do PAIGC no chão manjaco fora uma encenação desde o princípio? Quem ordenara, e assacava assim com a responsabilidade moral, as execuções dos parlamentares desarmados? É que, pior do que o ataque selectivo a Yamamoto em 1943, neste caso havia-se quebrado mais outra convenção de guerra, a que protege os parlamentares quando do curso de negociações. Do lado da direcção política do PAIGC apresenta-se-lhes uma lose/lose situation: se se demarcavam do que acontecera, transmitiriam a imagem de que não controlam as suas tropas no interior da Guiné; se assumissem as execuções, ficariam com o odioso da decisão. Mal por mal, optaram por esta última assumpção, uma atitude que os veteranos do PAIGC mantêm até à actualidade, sem se conseguir descortinar quanto da história das negociações terem sido um embuste cuidadosamente gerido pelos guerrilheiros é mesmo verdade, ou se se trata apenas de uma bravata para preservar a ficção política. 48 anos depois, e já há muito conhecido o vencedor (o que torna muito mais fácil encontrar uma verdade), o que ainda estará em disputa é a memória histórica do que realmente terá acontecido.
Em homenagem a essa memória, 12 anos depois dos acontecimentos de há 48 anos, Fausto fazia de Fernão Mendes Pinto um improvável símbolo da memória de todos aqueles que, baços, sem o brilho da glória, dilataram a fé e o império, mesmo que não acreditassem nem numa nem noutro.

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