
Pode haver uma outra razão, além da étnica, para que a sociedade norte-americana tenha sempre mostrado uma animosidade tão intensa para com a
Máfia. Vultos do campo dos negócios como
John D. Rockefeller,
Andrew Carnegie ou John Pierpont Morgan nunca foram pessoas recomendáveis. Mas o que os diferenciava daqueles outros homens de negócios, sintetizados
no grande ecrã por
Don Vito Corleone (acima), era a importância por eles conferida ao braço legal das suas organizações – não por acaso, naquela saga, o responsável legal da
famiglia era protagonizado por
Tom Hagen (
Robert Duvall, acima, à esquerda de
Marlon Brando), que era descendente de irlandeses.

Mesmo mais humanizados, como acontece com as séries de TV mais recentes como a de
Os Sopranos (acima), os ítalo-americanos (e os latinos em geral) continuam a gozar da reputação entre os anglo-saxónicos de manterem uma relação muito
canhestra com a legalidade: só eles se lembrariam de
legitimar a riqueza de um qualquer funcionário corrupto
fazendo-o ganhar consecutivos prémios de lotaria, por exemplo, ou então inutilizar um julgamento fazendo
desaparecer por persuasão ou intimidação as testemunhas cruciais. Por analogia, mais do que os
tiroteios de
Al Capone, são tais tipos de gestos
desastrados que acabaram por ficar associados à própria
prática mafiosa.

Entre nós, pelos vistos, também há
disso. Por um lado, há o caso em que o ex-Presidente da Câmara de Marco de Canaveses, Avelino Ferreira Torres (acima), é acusado de corrupção, extorsão, peculato de uso e abuso de poder;
uma das testemunhas parece que desapareceu… Por outro, há o caso do actual Presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais (abaixo), que é acusado de corrupção, abuso de poder, fraude fiscal e branqueamento de capitais;
o seu pedido para substituição do juiz não só foi indeferido, como veio acompanhado de uma descompostura:
A utilização do incidente, com os fundamentos invocados, constitui mesmo um desvio processual inaceitável…

Nos outros e nos nossos julgamentos, seja qual for o veredicto final ou a pena, ficamos sempre com a impressão - talvez às vezes injusta - que a decisão judicial foi benévola e que o réu deveu mais essa decisão a uma certa
habilidade manhosa do que a qualquer outro factor...
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