Foi, à sua maneira, um gesto ousado, num concurso que nunca se mostrou nada interessado em valorizar ousadias. Naquela altura, era uma Eurovisão que emanava naturalmente da imagem da Europa de então, onde a França do general de Gaulle, antes que o Maio de 68 abalasse tudo aquilo, se pensava o núcleo incontornável da CEE e de qualquer outra instituição europeia.
O Festival da Eurovisão procurava transmitir uma imagem completamente ficcionada da importância da francofonia, multiplicando as canções concorrentes cantadas em francês pelos contributos da França, Bélgica, Mónaco e mesmo do Luxemburgo (!). E, entre essas, quase todas favoritas à vitória porque a qualidade das mesmas e dos seus intérpretes, evidentemente, pouco contribuíam para o resultado da classificação final.
Naquele ano, a representação portuguesa teria sido quase forçosamente angolana: o grande rival de Eduardo Nascimento na selecção prévia havia sido o Duo Ouro Negro, cujos membros também eram originários de Angola. É portanto provável que a apresentação de um angolano a representar Portugal na Europa fosse um acontecimento esperado, senão mesmo provocado e sancionado pelo regime.
A ousadia, nesse ano, até foi premiada, mas foi para uma senhora inglesa que cantou... descalça.
Embora Eduardo Nascimento seja angolano, creio que concorda comigo que o seu vozeirão faz parte do património audiovisual português.
ResponderEliminarAinda bem. Obrigado.
ResponderEliminarUm abraço