23 abril 2006

AS ESTRATÉGIAS DE MARCELO

Não pude evitar um enorme sorriso quando Marcelo Rebelo de Sousa, na sua intervenção televisiva deste Domingo, a propósito das múltiplas candidaturas à liderança do CDS/PP no próximo congresso, criticou os estatutos internos recém aprovados do partido, que obrigam à apresentação conjunta de uma candidatura à liderança do partido para quem se proponha apresentar uma moção de orientação estratégia para o partido.

A entrevistadora, Maria Flor Pedroso, ainda fez notar a Marcelo que o seu próprio partido, o PSD, também adoptou a mesma prática, ao que este respondeu, rápida e evasivamente, que nunca tinha sido assim, desde o tempo de Sá Carneiro, como se “Sá Carneiro e o seu tempo" fossem os depositários de toda a sabedoria.

O meu enorme sorriso deveu-se à reacção de Marcelo, como um exemplar típico de um certo país político que está felizmente em vias de extinção, embora também não saiba se me deva regozijar pelo que está para lhe suceder. Mas não me parece que haja qualquer racional que consiga sustentar a apresentação de moções de estratégia sem a responsabilidade de uma equipa que se proponha implementá-las.

Parece-me a institucionalização da atitude bem portuguesa de mandar as bocas sem arcar com quaisquer responsabilidades por tê-las mandado. Ou para mostrar que são uns grandes pensadores. Ou só para mostrar que andam por ali, mas que ainda não lhes dá jeito fazer as despesas do esforço de dirigir o partido.

Em rigor, a prática que Marcelo defendeu, pode permitir que uma equipa seja eleita para a liderança de um partido para implementar e levar a cabo a estratégia de uma outra equipa, que preferiu deixar estar-se na sombra. É um acontecimento tão lógico como o de um primeiro-ministro que tem de aplicar um programa de governo apresentado pela oposição.

Em jeito de balanço, não surpreende que Marcelo, que sempre fez de mandar bocas a sua forma de estar na política, se continue a mostrar um acérrimo defensor da sua prática em congressos partidários. O que surpreende, retrospectivamente, é como esta prática, estruturalmente tão irracional e tão irresponsável, se conseguiu manter por mais de 30 anos de democracia partidária.

1 comentário:

  1. Um tirito no pé não deixa o autor da proeza a coxear!

    Não é inédito: um camarada de armas conseguiu fazer o mesmo e deu apenas cabo da biqueira da bota...

    Nos dois casos isso aconteceu pela mesma razão: as botas tinham um ou dois números acima da medida!

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