05 abril 2021

«SE CALHAR, A FARDA AJUDA...»

Eu já aqui apontei o caricato da situação de apresentar um almirante responsável por um programa de vacinação fardado de camuflado, mas tenho que me resignar aos resultados e concordar com o próprio almirante quando ele concede que, «se calhar, a farda ajuda». E ajudará mais do que apenas nas funções de coordenação, porque ainda aqui há uns dias e - para recuperar a descrição feita por António Araújo no Diário de Notícias - «com a conivência de um país inteiro, vimos professores sorridentes, com 20 ou 30 aninhos, a esticarem os braços para as picas milagrosas, e ninguém se questionou, ninguém se indignou, ninguém interpelou as autoridades máximas da nação» - almirante incluído, acrescento meu - «sobre como é possível, como é moral e humanamente admissível que jovens sem risco algum estejam alegremente a tirar o lugar aos mais indefesos, aos mais carentes. As vacinas e os recursos mobilizados para vacinar professores por atacado poderiam servir para salvar muitas vidas - cálculo que não foi feito, de todo, até porque ninguém o reclamou.» Submeto-me à constatação: o camuflado do almirante é despropositado para a sua função, mas gera um capital de respeitabilidade e é eficaz a dissipar eventuais contestações impertinentes. Ninguém chateia o almirante. Constatação e conclusão que, por associação de ideias, me transportou de imediato ao problema pessoal de Rui Rio, expresso nestas sondagens expressivas que se publicam rotineiramente quando a posição de António Costa se mostra politicamente mais periclitante. Também ajudaria Rui Rio a domesticar os sebastiano-passistas do seu partido. Mas, já que, para o fazer aparecer fardado, não faz sentido que ele volte a assentar praça com aquela idade, que tal distribuir estas suas fotografias do tempo em que foi magala para lhe aumentar a respeitabilidade?

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