04 abril 2021

A REVOLTA DA MADEIRA

4 de Abril de 1931. Desencadeia-se no Funchal mais um pronunciamento contra a Ditadura Militar que se mantinha no poder desde Maio de 1926. O pronunciamento militar ficará conhecido como a Revolta da Madeira, mas um outro nome que recebeu, o de Revolta dos Deportados, parecer-me-ia mais adequado. Isso porque a prática da Ditadura havia sido a de deportar para as ilhas adjacentes (Açores e Madeira), e também para as colónias, os oposicionistas político-militares que se haviam pronunciado em diversas intentonas para o derrube da Ditadura a que esta, com pertinácia, mas também com alguma dose de sorte, soubera resistir. Contudo, um subproduto desta sanção do ostracismo, é que todos estes locais, outrora remotos, se encontravam agora guarnecidos de uma plétora de oficiais oposicionistas à situação exilados, que, apesar de desprovidos de qualquer comando e funções, dispunham de todo o tempo do mundo para conspirar - em locais onde os recursos ao dispor dos representantes da autoridade do estado eram escassos. Contudo, a ameaça não se afigurava importante: havia um oceano a interpor-se entre os conspiradores e o seu objectivo último: Lisboa. Só que há precisamente 90 anos houve um grupo que resolveu não levar isso em consideração e promoveu este pronunciamento no Funchal.
A fase da insurreição e da prisão das autoridades locais foi tão fácil que não teve história. E tão embaraçosa que no continente a censura bloqueou as notícias sobre o que acontecera na Madeira durante 72 horas. Foi só em 7 de Abril (acima) que os jornais puderam dar conta do que se passara, só que agora incluía já «as providências do Governo para dominar os revoltosos». Mas a história ainda se encontrava longe do fim porque no dia seguinte, 8 de Abril, registava-se um pronunciamento semelhante em quatro ilhas dos Açores e em 17 de Abril aconteceria o mesmo em Bissau, capital da Guiné Portuguesa. E outros pronunciamentos similares vieram a ser abortados em São Tomé e em Lourenço Marques. O episódio mostrava como um punhado de oficiais deportados ou para ali desterrados administrativamente, podiam com alguma facilidade assumir o poder nesses entrepostos distantes do império português. Quanto à reacção governamental, que acima se esboçava, ela veio pôr a nu a carência de meios militares e navais do regime: aquilo que era possível mobilizar em termos de resposta imediata (48 horas) era uma «coluna composta exactamente por 704 homens» transportados em dois navios civis fretados à Companhia Nacional de Navegação (CNN), o paquete «Pedro Gomes» (foto acima) e o cargueiro «Cubango» (foto abaixo).
Este último transportaria os meios de combate mais pesados, assim como quatro hidroaviões que ainda seria preciso acomodar a bordo. Quanto à marinha de guerra, e ainda de acordo com a notícia mais acima do Diário de Lisboa, o cruzador «Carvalho Araújo» «largara para a baía de Cascais onde ficaria a aguardar a saída do «Pedro Gomes», a fim de o comboiar até ao Funchal». A canhoneira «Zaire» estivera a fazer experiências de mar para depois se lhe juntar nessa mesma função. Quanto ao contratorpedeiro «Guadiana» «ficou assente em princípio que não largará do Tejo por não ter raio de acção suficiente para fazer a viagem de ida e volta sem se reabastecer». Como se constata, se os insurrectos não tinham meios de projectar a sua insurreição para o continente, a inversa também se afigurava um grande problema. A esquadra lá acabou por partir, mas apenas a 24 de Abril. O primeiro desembarque foi infrutífero, mas um segundo, a 27 de Abril, foi bem sucedido. Os combates duraram uma semana e em princípios de Maio o assunto estava encerrado, com a rendição dos insurgentes. Mas deixem-me acrescentar um último detalhe, simbólico da impreparação militar e naval que esta Revolta dos Deportados evidenciara: durante as operações, a 30 de Abril de 1931, ao largo do Funchal, o paquete »Pedro Gomes» abalroou acidentalmente o contratorpedeiro »Vouga», afundando-o em horas. Apesar de não se registarem desastres pessoais, foi a perda material mais significativa da campanha...

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