13 abril 2021

QUANDO UM CONGRESSO PARTIDÁRIO ALGURES NA EUROPA CENTRAL ERA MOTIVO DE DESTAQUE

13 de Abril de 1981. Se, no poste anterior, nos confrontámos com as idiossincrasias do jornalismo sob a censura, antes do 25 de Abril, neste confrontamo-nos com as idiossincrasias do novo jornalismo depois do 25 de Abril em que, deixando de haver censura, se instalou, em certos órgãos de informação que haviam anteriormente adquirido prestígio, uma certa padronização das notícias, por muito absurda que fosse a relevância jornalística daquilo que se noticiava. Tomemos o exemplo acima, na página internacional de há 40 anos desse mesmo Diário de Lisboa que, 20 anos antes noticiara de forma censurada o golpe Botelho Moniz, onde se noticiava agora, com um amplo desenvolvimento e até a contribuição da ANOP (a agência de notícias nacional), a forma como estavam a decorrer em Berlim os trabalhos do X Congresso do Partido Socialista Unificado da Alemanha (de Leste).
Tendo desaparecido a censura era difícil compreender o critério jornalístico que justificaria tal destaque a uma reunião magna num país que nem sequer nos era próximo. Assim como não era comum cobrirem-se com todo este destaque o que acontecia nos congressos de partidos de poder no Ocidente, casos, por exemplo, do congresso do Partido Social Democrata sueco ou então o da Democracia Cristã italiana. Mas, mais do que essa disparidade de critérios, a verdade é que o interesse do que acontecera era nulo, a cenografia era sempre a mesma: começava-se sempre por um enfadonho discurso do líder - no caso Erich Honecker - gabando os resultados económicos alcançados (25,4%) e havia sempre na notícia uma referência ao infindo número de delegações de partidos irmãos ali presentes (125). Uma apreciável parcela do texto era, aliás, dedicada ao que fora à Alemanha dizer um russo, Mikhail Suslov, que representava a ortodoxia de pensamento comunista. O que é que isto tinha a ver com o leitor típico português que não fosse comunista? Tendo acabado a censura oficial, passara-se dessa externa e formal, e que bloqueava as notícias importantes, para uma outra interna e informal, que forçava a publicação de outras, irrelevantes. (Esclareça-se que este X Congresso terminaria a 16 de Abril com a eleição por unanimidade dos 2.700 delegados presentes dos membros do Comité Central... - que emocionante!)

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