Quem ainda guardar memória dos tempos do
cavaquismo (1985-95) lembrar-se-á como o modelo de desenvolvimento então implementado em Portugal aderia fortemente àquilo que Bruxelas esperava que nós fizéssemos. Havia uma profusão de fundos comunitários (acima, o hoje desaparecido
FEOGA), mas, conforme se pode ler nas
nove conclusões do celebrado Relatório Porter de 1994 que bem sintetiza as orientações dominantes dessas políticas de desenvolvimento, parecia existir tanto uma aposta na
super especialização (os chamados
clusters) como uma preferência evidente pelas actividades do sector secundário (indústria) e terciário (serviços) em detrimento do primário (agricultura e pescas).
Passados mais de quinze anos do final do
cavaquismo, não deixa de ser surpreendente que seja o mesmo Cavaco Silva, mas desempenhando agora o cargo de presidente, a
patrocinar a defesa do consumo de produtos nacionais, fazendo um apelo implícito à produção nacional diversificada, de onde se destaca naturalmente a produção alimentar... É natural que
políticos com extensas carreiras, como é o caso de Cavaco Silva, possam
evoluir na sua forma de pensar, mas é para fazer esse tipo de
acompanhamento que o jornalismo devia existir. Ora até hoje não dei nota de nenhum jornalista que lhe pedisse um comentário à
evolução da forma como pensava como 1º Ministro até esta actual, como Presidente…
É até bem possível que Cavaco Silva se recusasse a responder mas, mesmo não sendo época de bolo-rei, creio que, nesse caso e com a devida firmeza e insistência, se tornariam eloquentes as suas imagens (como estas de cima) a evadir-se aos temas inconvenientes, a mastigar qualquer coisita... com matérias-primas portuguesas, concerteza!