30 julho 2011

ENTRE DOIS RETRATOS – 1

Sun Yat-Sen é uma figura indispensável da História da China sem ter sido uma figura importante dessa mesma História. Como a Cultura Chinesa não suportaria passar sem dar um sentido aos acontecimentos que se sucederam à deposição do último Imperador, ele acabou por ser escolhido para esse fim. A sua indicação para primeiro presidente provisório da nova República Chinesa (entre 29 de Dezembro de 1911 e 10 de Março de 1912), parece ter sido mais uma opção de compromisso por uma figura respeitada mas impotente¹, do que o primeiro passo da sua caminhada até ao poder supremo - que nunca aconteceu...
A China das quatro décadas seguintes à da data da proclamação da República é um país que irá permanecer sempre dividido entre vários (por vezes, uma dúzia) de centros de poder rivais. E Sun Yat-sen, que veio a falecer precocemente em 1925, foi apenas um dos dirigentes de um deles, porventura o mais importante. Porém, ele também personifica como mais ninguém a necessidade da abertura da China. Sun foi baptizado, formado como um dos primeiros médicos ocidentais da China e passou 16 anos (1895-1911) no exílio, a maior parte deles no Japão, tendo mesmo chegado a casar com uma japonesa.
Para a iconografia nacional, Sun Yat-sen vem a sintetizar as várias forças progressistas chinesas nesses tempos conturbados em que a China dividida seguia em direcções políticas erráticas. E é por isso que tanto é possível que ele se tenha deixado fotografar à época de fato e gravata à ocidental (mais acima), como se torna aceitável que na China continental o prefiram exibir vestido com uma daquelas tradicionais túnicas chinesas que só se vieram a popularizar depois da implantação da República Popular (1949).

¹ Recorde-se que em Portugal e naquela mesma época aconteceu algo semelhante com Teófilo Braga, que foi o presidente interino entre 6 de Outubro de 1910 e 24 de Agosto de 1911.

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