09 julho 2011

A UNANIMIDADE PATRIÓTICA

Maus tempos para as agências de rating. Durante a última Crise Financeira elas foram censuradas por parecerem estar em conluio com a gente que classificavam e por se terem enganado grosseiramente apesar das suas elaboradas classificações. Agora estão a ser censuradas por se mostrarem resistentes e consistentes. A 5 de Julho, por exemplo, a Moody’s baixou a cotação de Portugal para lixo fazendo com que José Manuel Barroso, o presidente da Comissão Europeia, falasse sombriamente de facciosismo. A nossa análise é mais refinada e completa, disse ele – em inglês mas com sotaque português.

Este é o primeiro parágrafo (traduzido) de um artigo publicado esta semana na The Economist (p.65) a respeito das agências de rating. Se aqui o insiro não é por concordar com o seu conteúdo – consistência é o que dificilmente se encontra em alguns dos fundamentos do relatório que acompanha a decisão da Moody´s.

Porém, o que me parece assombroso é a unanimidade absoluta que a comunicação social portuguesa tem mostrado na forma como trata este assunto, condenando a agência. Ora, isto não será propriamente um jogo da selecção e haverá pelo menos um punhado de portugueses ideologicamente coerentes que ainda defendam a previsibilidade comportamental dos mercados

Várias vezes no passado se assistiram a momentos iguais de fervor patriótico em que a nossa opinião publicada se mostrou igualmente unânime e em vários deles o tempo veio a mostrar o engano em que lavrávamos. Um exemplo: a invasão da Índia portuguesa pela União Indiana em Dezembro de 1961. Nesse caso e noutros tantos, a existência da ditadura do Estado Novo tem sempre servido de álibi para a ausência de um debate pluralista sobre as questões importantes verdadeiramente nacionais, como era então o caso do problema colonial.

Pois bem, depois de 37 anos de democracia parece que nem mesmo a extinção da censura consegue que em circunstâncias como esta se rompa o círculo da unanimidade patriótica e se dê voz às vozes antipaticamente dissonantes… Para as encontrar, como em 1961, parece preciso consultar a imprensa estrangeira. Se calhar, nem a sociedade evoluiu tanto quanto se pensa nem o jornalismo nacional deixará de ser o instrumento dos interesses que sempre foi…

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