14 junho 2010

A BÉLGICA E A EUROPA

Hoje, a propósito das eleições que ontem ali tiveram lugar, na informação voltar-se-á a falar mais uma vez da situação política belga, como se se tratasse de um daqueles casais nossos conhecidos, que estão permanentemente desavindos mas que, por motivos que nos continuam a escapar, nunca mais se decidem a pedir o divórcio. Já aqui havia falado algumas vezes do tema: através de sucessivas transferências de competências para os governos das respectivas comunidades, o governo nacional belga já não tem poder algum.

Se assim não fosse, os partidos políticos que, como em todo o lado, existem para alcançar o poder, não teriam passado 282 dias em discussões infindas para integrar o governo central, nem se disporiam tão facilmente a abandoná-lo ao menor incidente. Será talvez excessivo afirmar que a Bélgica já não existe. Existe, mas existirá com a mesma substância que a vontade de sua Majestade quando os britânicos empregam aquela sua conhecida e consagrada expressão: o Governo de Sua Majestade (His Majesty's Government)…

É curioso como durante décadas – a Bélgica foi um dos países fundadores da CEE em 1958 – o problema da coesão belga foi pontapeado para a frente, na ilusão de que a Bélgica parecia ser um país ainda mais moderno que os outros, já adaptado à Europa do futuro, com os respectivos membros da federação (a Flandres e a Valónia) e Bruxelas como o Distrito Federal, numa réplica continental de Washington D.C. ou de Brasília. Porém, cada vez parece mais certo que o futuro próximo da União Europeia não virá a ser propriamente esse…

De há uns meses para cá tudo passou a ter nacionalidade: os problemas financeiros são gregos e as soluções têm de ser alemãs. E a campanha que precedeu as eleições belgas assemelhou-se na argumentação ao debate que divide a União, com os flamengos do Norte a acusarem os valões do Sul de um despesismo de recursos que não possuem. Se estes resultados eleitorais servirem de amostra do que poderá pensar o eleitorado europeu, então será preferível não nos consultarem também desta vez, que nos estamos marimbando todos uns para os outros...

2 comentários:

  1. Durante três anos os partidos francófonos recusam de negociar com os partidos tradicionais (moderados) de flandres e isto tem com resultado alucinante que os separatistas ganharam a eleição na flandres. Curiosamente criou a situação nova na Bélgica a possibilidade de encontrar uma solução para os problemas.
    Cumprimentos de Antuérpia

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  2. Cumprimentos Theo. Ainda bem que desta vez não ficou aborrecido com as minhas opiniões.

    Na imagem inicial dei a direita ao Vlaamse Leeuw porque vocês são os maioritários.

    Suponho que já lhe dei a entender que, em geral, prefiro os autores de BD francófonos, mas as vossas cervejas parecem-me melhores...

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