
Talvez tenha sido a vitória da
Frente Popular nas eleições francesas de Maio de 1936 que tivesse ressuscitado o
interesse artístico pelo povo. Mas, numa época de realismo, o
produto genuíno pode tornar-se um
desapontamento. Esta fotografia acima, tirada num Domingo nas margens do Rio Marne, data de 1937 e é da autoria do celebérrimo
Henri Cartier-Bresson. E mostra-nos… o povo. Genuíno. Desde as
alcinhas da camisola da senhora do lado direito que parece estar a fazer
tricot até aos
suspensórios do senhor do lado esquerdo, que
reforça o seu
copo de tintol. Uma realidade de que os políticos da tal
Frente, por muito
Popular que fosse (socialistas, comunistas e radicais), dificilmente não desdenhariam na intimidade.
Curiosamente, numa época em que predominavam os internacionalismos ideológicos com as suas respectivas organizações,
socialistas,
comunistas ou
nazi-fascistas, entre povos culturalmente aparentados, como será o caso de portugueses e franceses, parece existir um certo
internacionalismo informal - esse
realmente popular -
dos costumes, assente na sua
ruralidade comum. Ao vermos algumas cenas iniciais do filme português
Maria Papoila, que foi estreado também em 1937 (vídeo abaixo), não me parece forçado imaginar que os dois casais da fotografia de Cartier-Bresson se integrassem sem dificuldade no
espírito da cantoria da carruagem de 3ª classe (popular), incomodando o descanso de quem seguia em 1ª classe…
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