13 junho 2010

CINCO QUADROS DE FUZILAMENTOS

Ainda a propósito de fuzilamentos com pelotão organizado para o efeito, como só constam afinal do título da fotografia do poste anterior, vale a pena relembrar aqui algumas das pinturas mais célebres associadas a esse tema, a começar por aquela que será, provavelmente, a mais famosa de todas Três de Maio de 1808 em Madrid, que foi pintada por Francisco de Goya em 1814 (acima). O quadro veio depois a servir de inspiração em obras de outros grandes pintores, mantendo-se a mesma disposição, com os fuzilados à esquerda e os algozes à direita, assim como a manifestação da simpatia implícita pelos primeiros.
Em A Execução de Maximiliano (acima) de Édouard Manet (obra impressionista de 1867), essa simpatia manifesta-se na atitude estóica de Maximiliano (o do centro), o efémero Imperador do México (1864-67), quando comparada com as dos seus companheiros. Todavia, em Massacre na Coreia (abaixo) de Pablo Picasso (de 1951), essa simpatia manifesta-se de forma mais complexa, através da nudez dos executados (todos mulheres e crianças) em contraste com os metais e os rebites dos carrascos. Alusiva à Guerra da Coreia (1950-53) e ao envolvimento norte-americano nela, é uma das obras politicamente mais engajadas do pintor espanhol.
Curiosamente, a evolução que este tema terá tido na escola de pintura russa e depois soviética, é distinto do da pintura ocidental. O quadro abaixo, que foi pintado em 1897 mas cujo tema é ainda a Guerra Patriótica de 1812 e cujo autor é Vassily Veretchaguine, mostra como o exagero para efeitos de propaganda é muito mais russo do que soviético.É que parece não fazer sentido que os invasores franceses (à direita, impecavelmente alinhados) tivessem escolhido deliberadamente o interior de uma Igreja Ortodoxa de Moscovo (identificável por causa dos vários ícones religiosos nas paredes) para perpetrarem os seus massacres...
Outro fuzilamento que também foi imortalizado em tela para efeitos de propaganda foi O dos vinte e seis comissários de Baku, um episódio acessório da imposição do poder soviético nas regiões do Cáucaso durante a Guerra Civil que se seguiu à Revolução de Outubro. Pintado por Isaak Brodsky em 1925, sete anos depois dos acontecimentos, é o único quadro do conjunto que não respeita a disposição tradicional à Goya, aparecendo agora os fuzilados do lado direito e onde estes não são retratados como vítimas, assumindo, pelo contrário, uma atitude desafiadora e sendo desenhados num plano superior ao dos carrascos.

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