Há episódios da História Universal que se conseguem ler como se tratassem de histórias de um bom livro de ficção. Nem é preciso que o autor esteja inspirado para que a galeria das personagens seja preenchida com heróis trágicos, um vilão e verdadeiros momentos de tensão. O episódio que quero destacar aqui é a Intervenção Francesa no México, um episódio que durou de 1862 a 1867, contemporâneo, mas muito menos conhecido do que a Guerra Civil que se travou nos Estados Unidos (1861-1865). Uma palavra final de agradecimento é merecida para o grande produtor de todo o episódio, o imperador Napoleão III de França (1852-1870), de quem aqui já falei, personagem histórica que muito aprecio pelo seu percurso e que considero ser uma espécie de Santana-Lopes-bem-sucedido-à-escala-europeia-no-Século-XIX.

De uma gigantesca operação de cobrança coerciva (Janeiro de 1862), a conjugação de vários factores fez com que tudo se transformasse, pela inspiração de Napoleão III (abaixo), os desejos dos conservadores mexicanos e uma grande dose de ingenuidade de um arquiduque austríaco apropriadamente destinado a um fim trágico, num grande enredo romântico. Tanto os britânicos como os espanhóis (que, recorde-se, ainda eram a potência colonial na vizinha Cuba) rapidamente se aperceberam que os franceses se estavam a entusiasmar demasiado e retiraram as suas tropas três meses depois (Abril de 1862). Mas os dados pareciam estar lançados, com os franceses a acreditarem nos seus próprios mitos de que o seu exército, vitorioso da Guerra da Crimeia (1854-1856) e da Guerra da Independência Italiana (1859), era o mais eficiente do mundo.

Em 1863, a campanha foi relançada pelo general Bazaine com os reforços entretanto chegados e que nunca chegaram a atingir, no total, os 40.000 efectivos. As suas tropas capturaram a cidade de Puebla quase precisamente um ano depois do fracasso anterior, após um cerco de dois meses. E em 7 de Junho de 1863 o exército francês entrava triunfalmente na capital, na Cidade do México. Contudo, eloquente do estilo da guerrilha que se travava então no México, data dessa mesma altura (Abril de 1863) o episódio de Camerone, onde uma companhia da Legião Estrangeira francesa se viu cercada por três batalhões mexicanos, com os legionários a baterem-se literalmente até ao último homem como preconizava o romantismo da época (houve apenas 6 sobreviventes – 3 deles feridos – entre os 65 participantes).

Contudo, Maximiliano (abaixo) só chegou ao México sete meses depois, nos finais de Maio de 1864. Por essa altura já o general Grant (que viria a ser um decisivo opositor à presença francesa no México) já havia sido nomeado Comandante dos Exércitos da União e a vitória dos federais na Guerra Civil era tida por certa: em Setembro de 1864 as tropas do general Sherman conquistavam Atlanta na Geórgia. Do outro lado do Rio Grande, as tropas francesas, as tropas imperiais mexicanas e as unidades de voluntários europeus continuavam a expansão da autoridade do império embora a segurança das comunicações continuasse precária. Não é de estranhar que os últimos redutos republicanos se situassem no extremo norte, junto à fronteira com os Estados Unidos, nem que as nacionalidades dominantes entre os voluntários europeus fossem as de origem do imperador (austríaca) e da imperatriz (belga).

Em mais um gesto trágico e romântico que embeleza toda a história, foi para o evitar que a imperatriz Carlota partiu para a Europa, apelando às cabeças coroadas do velho continente – nomeadamente a Napoleão III – que sustentassem o trono do marido. Ao fazê-lo, a imperatriz começou a manifestar sintomas de paranóia, nomeadamente numa audiência em Roma com o papa Pio IX. Sem solução política à vista, e apesar de inúmeros adiamentos e pretextos (como os que agora George W. Bush anda a fazer), em Maio de 1866 Napoleão III anunciou uma retirada faseada do corpo expedicionário francês a ter lugar em três fases: Outubro desse ano, Março e Outubro de 1867. Como é normal e compreensível, esses anúncios afectam significativamente a disposição das tropas combatentes no terreno e foi isso mesmo o que aconteceu no México.

O Napoleão III parece que tinha mais "olhos do que barriga", é que também não se deu muito bem contra os alemães (ou só os prussianos).
ResponderEliminarFoi de pequena bronca (a Guerra da independência italiana, de onde saiu incompatibilizado com os italianos por causa da protecção ao papa e do estatuto de Roma), em pequena bronca (esta intervenção no México), até à grande bronca final de 1870, quando o seu país perdeu a guerra, as regiões da Alsácia e do norte da Lorena e o seu regime se desfez.
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