05 junho 2007

O LUSITÂNIA DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Conta-nos a História da Primeira Guerra Mundial que um dos factos marcantes que levaram à participação posterior dos Estados Unidos ao lado da Entente Cordiale (entendimento cordial - designação da Aliança firmada em 1904 entre a França e o Reino Unido) contra as Potências Centrais, foi o episódio do afundamento por um submarino alemão, a 7 de Maio de 1915, do paquete Lusitânia ao largo das costas irlandesas. Foi um episódio que o historiador Niall Ferguson escolheu para marcar o fim do que chama a era da primeira globalização.
O Lusitânia era um daqueles paquetes tradicionais do início do século passado (era um dos rivais do famoso Titanic) e transportava na altura quase 2.000 passageiros, dos quais 10% (197) eram de nacionalidade norte-americana. No desastre (o navio afundou-se muito rapidamente, em 18 minutos) morreram 1.198 pessoas, entre as quais 128 norte-americanos e a gestão da notícia na América pelos britânicos provocou um ultraje tal na opinião pública que o próprio Presidente Wilson se viu em dificuldades para a aplacar. Só em 1917, os Estados Unidos intervieram na Guerra, como potência associada.

A 3 de Setembro de 1939, o próprio dia em que terminou o ultimato que levou à declaração de guerra do Reino Unido à Alemanha, o paquete Athenia, que saíra nesse mesmo dia de Liverpool com destino ao Canadá com 1.100 passageiros a bordo (dos quais mais de 300 eram norte-americanos) foi torpedeado precisamente ao largo da Irlanda, como acontecera com o Lusitânia. Vários navios precipitaram-se para auxiliar os náufragos mas, mesmo assim, morreram 112 pessoas, incluindo 28 americanos.
O episódio foi embaraçoso para os dois lados: o comandante do submarino alemão estava rigorosamente proibido de afundar navios de passageiros sem pré-aviso e fê-lo porque confundira o Athenia com um navio de guerra; a grande maioria das vítimas não resultou directamente do afundamento do Athenia (que demorou 12 horas a afundar-se…) mas da descoordenação dos esforços de salvamento, nomeadamente de uma balsa salva-vidas cheia que foi estraçalhada pelo hélice de um dos navios salvadores.

Mas o que interessa destacar é que, houvesse interesse dos norte-americanos em envolverem-se desde o princípio no conflito europeu, os Estados Unidos dispuseram desde o primeiro dia de um novo caso Lusitânia e de um pretexto para se envolverem na Segunda Guerra Mundial. Esta instrumento histórico, que não foi utilizado e muito pouco conhecido, é um daqueles exemplos mais flagrantes de que a política externa das potências sempre se orientou pelo realismo.

Sem comentários:

Enviar um comentário