A Guerra-Fria, como qualquer guerra, tinha algumas coisas típicas de uma guerra. As descrições que, de um lado e doutro, circulavam sobre as sociedades dos outros eram de uma simplicidade de propaganda pura. Por exemplo: do lado de cá havia eleições livres mas no de lá havia um partido único, o que transformava as eleições numa farsa, à boa maneira do que acontecia nos tempos de Salazar entre nós. Era substancialmente verdade, mas era também uma simplificação forçada da mesma.

Só que o partido com maior representação na Câmara do Povo era, evidentemente, o SED que resultara da fusão dos partidos comunista (KPD) e social-democrata (SPD) na zona de ocupação russa da Alemanha do pós-guerra. E o processo eleitoral era gerido de tal forma que esse predomínio nunca podia ser ameaçado. A cenografia era idêntica na vizinha Polónia, mudando apenas as siglas: o partido do poder era o Partido Operário de Unidade Polaco (PZPR) e os satélites o democrático (SD) e o popular unido (ZSL).

Com o partido maioritário controlando o Estado e a imprensa, é fácil de adivinhar que os deputados dos outros partidos se tornaram rapidamente indistinguíveis dos do partido governamental, porque todos aqueles que fizeram ondas foram rápida mas discretamente afastados. Em retrospectiva, talvez Marcello Caetano tivesse melhorado muito a imagem internacional do regime se, em 1969, tivesse organizado as eleições para que a CDE e a CEUD tivessem eleito uns poucos deputados.
Provavelmente, ter-se-iam juntado nas denúncias aos deputados da Ala Liberal da ANP (o novo nome do partido do regime: Acção Nacional Popular) e profeririam discursos com frases que poderiam fazer as manchetes do jornal República (se a censura as deixasse passar, o que é duvidoso…). O mais provável é que tudo acabasse para os deputados eleitos pelas comissões eleitorais como acabou com os deputados renovadores eleitos pelo partido do regime: só os mais conformados renovariam a intenção de se recandidatarem em 1973. Mas entretanto Marcello receberia os apoios externos de quem estaria a demonstrar empenho em democratizar o regime… Talvez os pudesse ter usado contra a ala conservadora que lhe fazia frente...

Vasco gonçalves, antes das eleições de 75, apostou no MDP como o partido mais votado, mas só conseguiram uma pequena representação parlamentar antes de concorrerem ao lado do PCP e de se transformarem depois na Política XXI.
ResponderEliminarPor rigor, deixe-me acrescentar que houve um momento de hesitação quanto ao que fazer com o MDP/CDE, que já não concorreu às eleições legislativas de Abril de 1976.
ResponderEliminarMas já nas eleições autárquicas do mesmo ano reapareceu numa coligação montada pela PCP: a FEPU (Frente Eleitoral Povo Unido), com a FSP, o MDP e, claro, o PCP.
Depois a coligação foi-se esfarelando, creio que por desistência dos "outros democratas" perante a sua evidente falta de autonomia face aos comunistas.
A verdade é que, de FEPU a APU e a CDU, inventando novos parceiros, há mais de trinta anos que o PCP não se apresenta como tal a quaisquer eleições!...
Deve ser fezada...