É muito famoso e muito filmado o episódio do ataque japonês a Pearl Harbour em 7 de Dezembro de 1941. O que é menos sabido é que esse ataque foi apenas uma das facetas de um plano geral coordenado e que houve um conjunto de outros ataques simultâneos ou quase, desencadeado pelas forças armadas japonesas contra as várias possessões que os países ocidentais em guerra contra o Eixo tinham no Extremo Oriente.
No dia seguinte àquele em que as forças aeronavais nipónicas afundaram os couraçados norte-americanos, as tropas japonesas atacaram a colónia britânica de Hong-Kong, na China, e desembarcaram na Malásia britânica. Dois dias depois, era a vez dos desembarques nas ilhas de Lução, a mais setentrional das Filipinas, e de Guam, no meio do Oceano Pacífico, que estavam ambas sob tutela norte-americana.
Uma semana depois calhava a vez à ilha de Bornéu, e a ameaça da expansão japonesa estendeu-se rapidamente às Índias Orientais Holandesas e à Austrália. Para a defrontar, os vários países ameaçados criaram um comando conjunto (veja-se a imagem acima com a sua área de influência), com uma designação muito imaginativa mas, como os acontecimentos posteriores vieram claramente demonstrar, de uma eficácia muito reduzida.
O Comando designava-se ABDA (American – British – Dutch – Australian), era comandado por um general britânico (Wavell) e o comando de cada ramo estava salomonicamente dividido por cada nacionalidade: Exército (Poorten, holandês), Marinha (Hart, norte-americano) e Força Aérea (Peirse, britânico). E tinha um defeito notável: não funcionava – MacArthur, por exemplo, que estava nas Filipinas, não se encaixava originalmente naquela estrutura…
O ABDA foi assim um daqueles soundbites inócuos, criado para efeitos de propaganda de guerra que existiu antes do termo ter sido criado (o comando durou pouco mais de mês e meio, antes de se desagregar perante as sucessivas derrotas frente aos japoneses…). Mas lembro-me dele quando ouço daqueles acrónimos que associam países muito diferentes, com um remoto denominador comum, mas ordenados por forma a soar bem ao ouvido: BRIC.
BRIC (tem a mesma sonoridade que a palavra tijolo em inglês: brick) é um acrónimo que resulta da junção encadeada das iniciais de Brasil – Rússia – Índia – China. Empregá-lo dá um certo ar de entendimento mais aprofundado dos problemas de política internacional, como decerto não terá escapado aos assessores de José Sócrates. São todas economias emergentes, mas desbastada essa trivialidade, emergem de forma diferente e com objectivos estratégicos distintos.
A começar pela Rússia, que não emerge propriamente, antes reemerge, embora agora numa versão mais reduzida da União Soviética. É um país que está a viver momentos de prosperidade, é um grande país exportador como os seus colegas de acrónimo China e Brasil, mas há que ter presente que esse resultado (como acontecia com a antiga União Soviética, de resto) é obtido à custa da venda das suas matérias-primas, não da eficácia da sua produção industrial, que não parece ter melhorado significativamente.
Quem também não tem um sector industrial com o dinamismo suficiente para conseguir equilibrar a sua balança comercial com o exterior é a Índia. Mas também não tem matérias-primas que supram a diferença. Contudo, esse défice quase desaparece totalmente quando se contabilizam os serviços em que a Índia se tem vindo a especializar. Só que os grandes clientes da Índia não estão nos seus colegas do BRIC, mas sim nas economias dos países desenvolvidos…
Finalmente, a China e o Brasil são os países cujas estruturas económicas mais se assemelham. Ambos são grandes exportadores de produção industrial, mas o Brasil adiciona a isso potencialidades de exportador de matérias-primas agrícolas e minerais. De dimensões continentais, sofrem ambos de problemas semelhantes e graves de assimetrias quanto aos ritmos de desenvolvimento interno das suas regiões. Mas as semelhanças também os podem transformar em rivais na busca de clientes externos para o que produzem…
Em suma, e como se percebe, é uma aposta que não demonstra grande presciência a de antecipar o crescimento económico e o aumento de importância destes 4 países, embora eles o estejam a fazer cada um à sua maneira distinta e, se calhar, nalguns casos em concorrência directa entre si. Convém é não esquecer também as realidades das potências económicas já existentes que querem traduzir em verdadeira influência estratégica esse seu poder. Fala-se imenso das exportações da China, mas esquece-se que o país mais exportador do Mundo* é a Alemanha…
No dia seguinte àquele em que as forças aeronavais nipónicas afundaram os couraçados norte-americanos, as tropas japonesas atacaram a colónia britânica de Hong-Kong, na China, e desembarcaram na Malásia britânica. Dois dias depois, era a vez dos desembarques nas ilhas de Lução, a mais setentrional das Filipinas, e de Guam, no meio do Oceano Pacífico, que estavam ambas sob tutela norte-americana.
Uma semana depois calhava a vez à ilha de Bornéu, e a ameaça da expansão japonesa estendeu-se rapidamente às Índias Orientais Holandesas e à Austrália. Para a defrontar, os vários países ameaçados criaram um comando conjunto (veja-se a imagem acima com a sua área de influência), com uma designação muito imaginativa mas, como os acontecimentos posteriores vieram claramente demonstrar, de uma eficácia muito reduzida.
O Comando designava-se ABDA (American – British – Dutch – Australian), era comandado por um general britânico (Wavell) e o comando de cada ramo estava salomonicamente dividido por cada nacionalidade: Exército (Poorten, holandês), Marinha (Hart, norte-americano) e Força Aérea (Peirse, britânico). E tinha um defeito notável: não funcionava – MacArthur, por exemplo, que estava nas Filipinas, não se encaixava originalmente naquela estrutura…
O ABDA foi assim um daqueles soundbites inócuos, criado para efeitos de propaganda de guerra que existiu antes do termo ter sido criado (o comando durou pouco mais de mês e meio, antes de se desagregar perante as sucessivas derrotas frente aos japoneses…). Mas lembro-me dele quando ouço daqueles acrónimos que associam países muito diferentes, com um remoto denominador comum, mas ordenados por forma a soar bem ao ouvido: BRIC.
BRIC (tem a mesma sonoridade que a palavra tijolo em inglês: brick) é um acrónimo que resulta da junção encadeada das iniciais de Brasil – Rússia – Índia – China. Empregá-lo dá um certo ar de entendimento mais aprofundado dos problemas de política internacional, como decerto não terá escapado aos assessores de José Sócrates. São todas economias emergentes, mas desbastada essa trivialidade, emergem de forma diferente e com objectivos estratégicos distintos.
A começar pela Rússia, que não emerge propriamente, antes reemerge, embora agora numa versão mais reduzida da União Soviética. É um país que está a viver momentos de prosperidade, é um grande país exportador como os seus colegas de acrónimo China e Brasil, mas há que ter presente que esse resultado (como acontecia com a antiga União Soviética, de resto) é obtido à custa da venda das suas matérias-primas, não da eficácia da sua produção industrial, que não parece ter melhorado significativamente.
Quem também não tem um sector industrial com o dinamismo suficiente para conseguir equilibrar a sua balança comercial com o exterior é a Índia. Mas também não tem matérias-primas que supram a diferença. Contudo, esse défice quase desaparece totalmente quando se contabilizam os serviços em que a Índia se tem vindo a especializar. Só que os grandes clientes da Índia não estão nos seus colegas do BRIC, mas sim nas economias dos países desenvolvidos…
Finalmente, a China e o Brasil são os países cujas estruturas económicas mais se assemelham. Ambos são grandes exportadores de produção industrial, mas o Brasil adiciona a isso potencialidades de exportador de matérias-primas agrícolas e minerais. De dimensões continentais, sofrem ambos de problemas semelhantes e graves de assimetrias quanto aos ritmos de desenvolvimento interno das suas regiões. Mas as semelhanças também os podem transformar em rivais na busca de clientes externos para o que produzem…
Em suma, e como se percebe, é uma aposta que não demonstra grande presciência a de antecipar o crescimento económico e o aumento de importância destes 4 países, embora eles o estejam a fazer cada um à sua maneira distinta e, se calhar, nalguns casos em concorrência directa entre si. Convém é não esquecer também as realidades das potências económicas já existentes que querem traduzir em verdadeira influência estratégica esse seu poder. Fala-se imenso das exportações da China, mas esquece-se que o país mais exportador do Mundo* é a Alemanha…
* Aquele que regista o maior superavite em valor na sua balança comercial (dados de Março de 2007)
Em termos de importação não sei em que lugar estão os EUA. No entanto as suas importações excedem claramente as importações. Só não entendo é como eles se conseguem safar tão bem com esse saldo.
ResponderEliminarA exoressão "made in German" foi criada pelos americanos após a II Guerra para designar certos produtos feitos no país ocupado e sem grande qualidade.
É uma daquelas siglas que hoje tem um significado diferente.
Mas a China meu caro, vai tendo um superavit comercial, depois tecnológico, bélico, já tem o histórico.
E talvez o espiritual.
Quando referiste o BRIC, lembrei-me logo de outro acrónimo, os PIGS (Portugal, Italy, Greece and Spain). Este notoriamente com uma sonoridade piorzinha...
ResponderEliminarE sobretudo, Rantas, não beneficia quem o emprega naqueles seminários de política internacional...
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