Se as suas opiniões eram tão inequívocas e assertivas em prol de Israel na altura e o assunto lhe parecia despertar assim tanto interesse imaginem a minha curiosidade sobre qual seria a sua reacção quando descubro que, por coincidência, José Pacheco Pereira parecia estar de visita em Israel precisamente na altura em que se tornou público o teor de um relatório de uma Comissão constituída para o efeito, que é fortemente condenatório sobre a forma como foram dirigidas política e militarmente a ofensiva contra o Hezbollah no Líbano. O que nem tem nada de novo, se recordarmos o que especialistas portugueses já tinham afirmado na altura, como foi o caso do General Loureiro dos Santos.
Mas, pelos vistos, nem mesmo a proximidade geográfica dos acontecimentos serviu agora de catalisador para uma reflexão sobre o que escrevera. Já no Verão, me apercebera que Pacheco Pereira franqueia por vezes francamente a fronteira entre aquilo sobre que opina e sobre aquilo de que percebe - de que a confusão que lhe ouvi entre uma companhia e um regimento de engenharia foi apenas um indício revelador… Tudo aquilo que escreveu se assemelha agora, substantivamente, a uma defesa à outrance* da posição política do Estado de Israel. Só que agora parece ter ficado comprovado que não era preciso gostar do Hezbollah para achar que a condução israelita daquela guerra estava a ser um disparate…
José Pacheco Pereira pode discordar das conclusões do relatório mas aí conviria que nos explicasse porquê. Contudo, na minha interpretação, este silêncio parece-me apontar para uma outra direcção... Mas ainda vai a tempo e ficará bem a José Pacheco Pereira reconhecer que todo o assunto mereceria uma reapreciação… Era ideologicamente muito menos faccioso... Era de historiador!
* Expressão francesa que se pode traduzir por a todo o transe e que classificava o tipo de atitude a assumir nas ofensivas pela doutrina militar francesa de 1871 a 1914. Também se emprega a expressão associada à defesa, mas em sentido irónico, quando esta vai para além de tudo o que é razoável…
ADENDA: Posteriormente à publicação deste poste, José Pacheco Pereira inseriu no Abrupto um poste que ainda não concluiu, onde creio que pretende estabelecer um paralelo entre a utilização política do recente Relatório Winograd e a de um outro Relatório (Agranat) publicado na sequência da Guerra do Yom Kippur de 1973. Para já, parece-me que a analogia da utilização política dos dois relatórios não se pode estender às condições estratégicas em que as duas guerras foram travadas e, consequentemente, ao conteúdo das críticas dos dois relatórios, como se poderia deduzir de uma leitura descuidada do que José Pacheco Pereira até agora escreveu. Mas fico à espera da suas conclusões e saúdo o facto de afinal me ter enganado, e de ele não ter andado distraído por Israel...
É por estas (e por outras!) que “previsões só depois do jogo”, como dizia uma luminária do nosso futebol...
ResponderEliminarAqui nem se tratava de previsões, mas apenas de uma análise de situação onde o lado com que JPP simpatiza ideologicamente estava "a meter água" e... meteu água como a Comissão agora reconhece - o uso das conclusões para derrubar politicamente Olmert é outra coisa...
ResponderEliminarTodos nos enganamos e todos já nos enganámos. Aqueles que têm predisposição para pregar normas de conduta como JPP é que depois se fragilizam quando são apanhados nestas situações de Frei Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz...