Alexandre II (1818-1881), o czar russo que reinou (e na Rússia dos czares reinar significa isso mesmo, reinar!) de 1855 até à sua morte, assassinado, contava com 15 trisavós (entre 16) de origem alemã entre os seus antepassados… E o seu décimo sexto trisavô, que era o czar Pedro III (1728-1762, também assassinado…), só era meio russo, porque o lado paterno da família era escandinava, dividida entre as casas reais suecas e dinamarquesas…Com esta árvore genealógica, tanto pior para a reputação eslava dos Romanov…
A análise do reinado de Alexandre pode ser uma boa base de partida para a controvérsia sobre a capacidade dos indivíduos influenciarem a história. É uma controvérsia interessante mas, que para se manter séria, está sujeita a muitas condicionantes, a maior das quais a de não se poder aplicar o método experimental: não se pode observar o que acontecerá se A fizer (ou não) o que efectivamente fez, para ajuizar do impacto do (não) feito. Embora se possa especular sobre o que aconteceria, isso é uma outra actividade que não História.
O poder de que os czares estavam investidos são daqueles casos raros da História em que é possível atribuir a um indivíduo a capacidade de levar a cabo transformações pelas quais é possível atribuir-lhe a responsabilidade. Um momento desses é o decreto de Alexandre II, de Março de 1861, em que são libertados da servidão 50 milhões de camponeses russos e se criam condições para um esboço de reforma agrária com a distribuição por eles de cerca de 100 milhões de hectares de terras pertencentes à coroa e à aristocracia latifundiária, que foram indemnizados pelo Estado.
Dois anos antes de Abraham Lincoln ter feito algo semelhante - mas sem reforma agrária - nos Estados Unidos em relação aos escravos negros e com um acolhimento de simpatia idêntico por parte da intelectualidade europeia, o czar russo parecia estar à procura de criar uma nova classe social campesina que lhe fosse fiel. É que o impacto social do seu decreto superava em muito o que aconteceu nos Estados Unidos: os escravos africanos eram menos de 20% da população norte-americana da época, enquanto os servos russos emancipados seriam um pouco mais de 50% de toda a população do império russo…
O conjunto de medidas de Alexandre II (como as de Lincoln…) foi muito mais complexo do que a bondade simples da emancipação dos servos: a liberalidade demonstrada por ele para com a autonomia finlandesa faz um contraste impressionante com a perseguição às nacionalidades polaca, ucraniana, lituana e bielorussa, do antigo reino polaco. E só as análises históricas que dispõem da presciência do que aconteceu 56 anos depois, em 1917, é que conseguem assegurar que as reformas de Alexandre II fracassaram porque vinham demasiado tarde…
Por mim, prefiro considerar que aquelas grandes sociedades possuem certas estruturas nucleares, como se fossem esqueletos, que sofrem pequenas mas constantes mutações, mas essas estruturas estão muito para além do voluntarismo de quem dirige as sociedades. O segredo do sucesso de um dirigente pode estar em saber interpretá-las e acompanhá-las. Concretamente, quase 150 anos depois do decreto de Alexandre II libertando os servos, continua a parecer-me prematuro falar de democracia na Rússia. Como no passado, e após uma fase de transição nos anos noventa, na Rússia continua-se a preferir a direcção de um autocrata.
Para benefício da imagem da Rússia no exterior convém agora que a autocracia seja legitimada por umas cerimónias de ida às urnas. E elas fazem-se… Mas isso não torna Vladimir Putin num democrata, nem creio que seja isso que a grande maioria dos russos espera dele. São coisas que nem um czar consegue mudar…
A análise do reinado de Alexandre pode ser uma boa base de partida para a controvérsia sobre a capacidade dos indivíduos influenciarem a história. É uma controvérsia interessante mas, que para se manter séria, está sujeita a muitas condicionantes, a maior das quais a de não se poder aplicar o método experimental: não se pode observar o que acontecerá se A fizer (ou não) o que efectivamente fez, para ajuizar do impacto do (não) feito. Embora se possa especular sobre o que aconteceria, isso é uma outra actividade que não História.
O poder de que os czares estavam investidos são daqueles casos raros da História em que é possível atribuir a um indivíduo a capacidade de levar a cabo transformações pelas quais é possível atribuir-lhe a responsabilidade. Um momento desses é o decreto de Alexandre II, de Março de 1861, em que são libertados da servidão 50 milhões de camponeses russos e se criam condições para um esboço de reforma agrária com a distribuição por eles de cerca de 100 milhões de hectares de terras pertencentes à coroa e à aristocracia latifundiária, que foram indemnizados pelo Estado.
Dois anos antes de Abraham Lincoln ter feito algo semelhante - mas sem reforma agrária - nos Estados Unidos em relação aos escravos negros e com um acolhimento de simpatia idêntico por parte da intelectualidade europeia, o czar russo parecia estar à procura de criar uma nova classe social campesina que lhe fosse fiel. É que o impacto social do seu decreto superava em muito o que aconteceu nos Estados Unidos: os escravos africanos eram menos de 20% da população norte-americana da época, enquanto os servos russos emancipados seriam um pouco mais de 50% de toda a população do império russo…
O conjunto de medidas de Alexandre II (como as de Lincoln…) foi muito mais complexo do que a bondade simples da emancipação dos servos: a liberalidade demonstrada por ele para com a autonomia finlandesa faz um contraste impressionante com a perseguição às nacionalidades polaca, ucraniana, lituana e bielorussa, do antigo reino polaco. E só as análises históricas que dispõem da presciência do que aconteceu 56 anos depois, em 1917, é que conseguem assegurar que as reformas de Alexandre II fracassaram porque vinham demasiado tarde…
Por mim, prefiro considerar que aquelas grandes sociedades possuem certas estruturas nucleares, como se fossem esqueletos, que sofrem pequenas mas constantes mutações, mas essas estruturas estão muito para além do voluntarismo de quem dirige as sociedades. O segredo do sucesso de um dirigente pode estar em saber interpretá-las e acompanhá-las. Concretamente, quase 150 anos depois do decreto de Alexandre II libertando os servos, continua a parecer-me prematuro falar de democracia na Rússia. Como no passado, e após uma fase de transição nos anos noventa, na Rússia continua-se a preferir a direcção de um autocrata.
Para benefício da imagem da Rússia no exterior convém agora que a autocracia seja legitimada por umas cerimónias de ida às urnas. E elas fazem-se… Mas isso não torna Vladimir Putin num democrata, nem creio que seja isso que a grande maioria dos russos espera dele. São coisas que nem um czar consegue mudar…
Peça-lhe ajuda para este dilema
ResponderEliminarIsto é que choca:
http://absolutamenteninguem.blogspot.com/2007/05/asae-do-caraas.html
Mais situações marcantes em:
http://absolutamenteninguem.blogspot.com
Tenham medo!