Se um dos defeitos que apontei às aventuras espaciais ficcionadas de Dan Cooper era a falta de credibilidade das suas histórias (dois postes abaixo), é de toda a justiça apontar autores que considero capazes de, partindo de situações reais, construir ficções tão credíveis que elas se chegam a misturar com a realidade. O autor que quero salientar é o britânico Frederick Forsyth e a obra, que é o seu livro de estreia que o tornou famoso no género, O Dia do Chacal, publicado em 1971.
A narrativa começa por um episódio bem real: o atentado perpetrado contra o general de Gaulle em Agosto de 1962 pela OAS (Organisation armée secrète), a organização terrorista clandestina que, lutando pelos direitos dos colonos de origem europeia da Argélia, considerava de Gaulle um traidor à sua causa pela concessão da independência à Argélia e à maioria de confissão muçulmana, que havia ocorrido no mês anterior ao do atentado. A fotografia abaixo mostra algumas das 14 balas que atingiram a viatura presidencial.
A partir daqui a narrativa de Forsyth leva-nos às lutas encapotadas travadas entre a OAS e os serviços de contra-espionagem franceses (SDECE) e à contratação, por parte dos dirigentes da OAS, de um anónimo mercenário britânico, especializado em assassinatos políticos selectivos, para assassinar de Gaulle. A imagem de marca da ficção de Forsyth consiste no rigor aparente com que descreve a forma como o assassino (denominado Chacal) vai montando a sua operação sem antecipar quaisquer detalhes sobre a mesma.
Acompanhamos assim os estudos detalhados sobre a personalidade de Gaulle feitos por Chacal na biblioteca, os diversos processos que usa para a aquisição de várias identidades falsas, as iniciativas que toma para comprar uma arma de precisão especialmente construída para o efeito, ou para a aquisição de viaturas que possam vir a mudar rapidamente de aspecto. O suspense é fornecido pela descoberta pelos franceses do que se preparava e pela caça ao homem desencadeada pela polícia francesa.
Não vale a pena estragar a leitura do livro a quem a isso se dispuser, detalhando ainda mais as peripécias, só importa dizer que Forsyth não altera a realidade a ponto de fazer assassinar de Gaulle que, como se sabe, morreu pacatamente com quase 80 anos, em 1970, na sua aldeia de Colombey-les-Deux-Églises. O requinte de malvadez da lógica de todo enredo, é que toda a história da conspiração pode tornar-se aceitável porque, na eventualidade de ter existido, teria sido naturalmente abafada pelas autoridades francesas…
É que Chacal chegou a alvejar de Gaulle só que errou o tiro por um motivo bem prosaico: o presidente francês participava numa cerimónia de imposição de condecorações e o assassino, ao visar a sua cabeça e com toda a sua formação britânica, não concebera que o enorme de Gaulle (1,94 de altura) se iria baixar para saudar à francesa, com um beijo, o recém-condecorado… A bala perdeu-se e Forsyth criou mais um mito que sustenta a improbabilidade de uma aliança designada por Entente Cordiale… que continua a existir! E Chacal acaba morto quando se preparava para uma nova tentativa...
Existe um filme de 1973 com o mesmo nome do livro (The Day of the Jackal) e que lhe é muito fiel. A escolha do actor para desempenhar o papel de Chacal (o britânico Edward Fox) é particularmente feliz, pois ele era na época praticamente desconhecido do público (uma vantagem para uma personagem que quer passar desapercebida) e que tem a tarefa difícil de não manifestar quaisquer emoções ao longo do filme, conforme o Chacal de Forsyth, que, apesar de eficiência, era manifestamente um caso psiquiátrico.
Depois em 1997, houve um novo filme, baptizado The Jackal, também baseado na mesma intriga mas uma verdadeira americanada de pipocas em todo o seu esplendor. Transposta para os Estados Unidos, do conteúdo político da intriga não ficou nada, do rigor e sistematização da montagem da operação não ficou nada, das diferenças culturais entre caçadores e caçado não ficou nada… Ficou o luxo do elenco (Richard Gere, Bruce Willis e Sidney Poitier) que, havendo a referência do filme anterior, só ficou a perder por participar neste…
Mas, regressando ao livro de Frederick Forsyth, e à credibilidade da intriga que é o título deste poste, não quero deixar de citar o ponto fraco que sempre me deixou intrigado: se Chacal se mostrava de um rigor e metodismo impressionante na montagem do seu plano para o assassinato, por que é que ao longo do livro não encontramos nenhumas medidas de rigor igual que ele tivesse planificado para se evadir e desaparecer* depois de o ter consumado?… Até parecia que ele sabia como terminava o livro…
* Na história, a OAS reconhece que Chacal seria forçado a retirar-se e desaparecer depois daquele trabalho, o que justificava o valor elevadíssimo dos seus honorários.
A narrativa começa por um episódio bem real: o atentado perpetrado contra o general de Gaulle em Agosto de 1962 pela OAS (Organisation armée secrète), a organização terrorista clandestina que, lutando pelos direitos dos colonos de origem europeia da Argélia, considerava de Gaulle um traidor à sua causa pela concessão da independência à Argélia e à maioria de confissão muçulmana, que havia ocorrido no mês anterior ao do atentado. A fotografia abaixo mostra algumas das 14 balas que atingiram a viatura presidencial.
A partir daqui a narrativa de Forsyth leva-nos às lutas encapotadas travadas entre a OAS e os serviços de contra-espionagem franceses (SDECE) e à contratação, por parte dos dirigentes da OAS, de um anónimo mercenário britânico, especializado em assassinatos políticos selectivos, para assassinar de Gaulle. A imagem de marca da ficção de Forsyth consiste no rigor aparente com que descreve a forma como o assassino (denominado Chacal) vai montando a sua operação sem antecipar quaisquer detalhes sobre a mesma.
Acompanhamos assim os estudos detalhados sobre a personalidade de Gaulle feitos por Chacal na biblioteca, os diversos processos que usa para a aquisição de várias identidades falsas, as iniciativas que toma para comprar uma arma de precisão especialmente construída para o efeito, ou para a aquisição de viaturas que possam vir a mudar rapidamente de aspecto. O suspense é fornecido pela descoberta pelos franceses do que se preparava e pela caça ao homem desencadeada pela polícia francesa.
Não vale a pena estragar a leitura do livro a quem a isso se dispuser, detalhando ainda mais as peripécias, só importa dizer que Forsyth não altera a realidade a ponto de fazer assassinar de Gaulle que, como se sabe, morreu pacatamente com quase 80 anos, em 1970, na sua aldeia de Colombey-les-Deux-Églises. O requinte de malvadez da lógica de todo enredo, é que toda a história da conspiração pode tornar-se aceitável porque, na eventualidade de ter existido, teria sido naturalmente abafada pelas autoridades francesas…
É que Chacal chegou a alvejar de Gaulle só que errou o tiro por um motivo bem prosaico: o presidente francês participava numa cerimónia de imposição de condecorações e o assassino, ao visar a sua cabeça e com toda a sua formação britânica, não concebera que o enorme de Gaulle (1,94 de altura) se iria baixar para saudar à francesa, com um beijo, o recém-condecorado… A bala perdeu-se e Forsyth criou mais um mito que sustenta a improbabilidade de uma aliança designada por Entente Cordiale… que continua a existir! E Chacal acaba morto quando se preparava para uma nova tentativa...
Existe um filme de 1973 com o mesmo nome do livro (The Day of the Jackal) e que lhe é muito fiel. A escolha do actor para desempenhar o papel de Chacal (o britânico Edward Fox) é particularmente feliz, pois ele era na época praticamente desconhecido do público (uma vantagem para uma personagem que quer passar desapercebida) e que tem a tarefa difícil de não manifestar quaisquer emoções ao longo do filme, conforme o Chacal de Forsyth, que, apesar de eficiência, era manifestamente um caso psiquiátrico.
Depois em 1997, houve um novo filme, baptizado The Jackal, também baseado na mesma intriga mas uma verdadeira americanada de pipocas em todo o seu esplendor. Transposta para os Estados Unidos, do conteúdo político da intriga não ficou nada, do rigor e sistematização da montagem da operação não ficou nada, das diferenças culturais entre caçadores e caçado não ficou nada… Ficou o luxo do elenco (Richard Gere, Bruce Willis e Sidney Poitier) que, havendo a referência do filme anterior, só ficou a perder por participar neste…
Mas, regressando ao livro de Frederick Forsyth, e à credibilidade da intriga que é o título deste poste, não quero deixar de citar o ponto fraco que sempre me deixou intrigado: se Chacal se mostrava de um rigor e metodismo impressionante na montagem do seu plano para o assassinato, por que é que ao longo do livro não encontramos nenhumas medidas de rigor igual que ele tivesse planificado para se evadir e desaparecer* depois de o ter consumado?… Até parecia que ele sabia como terminava o livro…
* Na história, a OAS reconhece que Chacal seria forçado a retirar-se e desaparecer depois daquele trabalho, o que justificava o valor elevadíssimo dos seus honorários.
[...]Se você quiser ler uma descrição mais detalhada, eis um post interessante que encontrei.[...]
ResponderEliminarhttp://adultimum.blogspot.com/2008/01/livro-o-dia-do-chacal.html
O Chacal planejou sim a sua retirada não conseguindo em função do detetive Lebel o ter destruido......Leitura obrigatória pra quem gosta desse tipo de história ficção/realidade/ficção ! Abs Jotta Ventura
ResponderEliminarEntão transponha para aqui as passagens do livro onde se leia como o Chacal estaria a planejar a sua retirada.
ResponderEliminarPor exemplo:
Em que sítio Forsyth nos explica como é que ele iria fugir de Paris? Ou onde se iria ele esconder da Caça ao Homem que se seguiria inevitavelmente ao assassinato de de Gaulle?