09 junho 2007

OLIVER CROMWELL

Oliver Cromwell (1599-1658) foi um político e general britânico do século XVII, que é considerado o principal responsável pela abolição da monarquia britânica (1649) e pela instauração de um regime de inspiração republicana, conhecido pelo nome de Commonwealth (1649-1660), à frente do qual Cromwell assumiu o cargo dirigente com o nome de Lorde Protector. Para mais, a sua ascensão ao poder foi o culminar vitorioso da Guerra Civil Inglesa (1642-1651 - há quem as desdobre em três) que, apesar do nome, envolveu tanto a Inglaterra e Gales como a Escócia e a Irlanda e que teve o seu momento mais significativo na captura e execução do rei legítimo Carlos Stuart em 1649.
Já se passou tempo suficiente (350 anos…) para que o tempo fizesse integrar a figura de Cromwell naquela corrente feita de lugares comuns convencionais que as histórias nacionais, em geral, e a história do Reino Unido, em particular, sempre possuem. Mas não. Cromwell permanece a figura controversa que sempre foi, como se tudo aquilo que esteve em disputa na Guerra Civil que venceu fosse um assunto geneticamente indissociável da maneira inglesa de ser e que tivesse ficado para sempre por resolver. E há quem descreva choques pessoais entre personalidades britânicas do século XX equiparando-os às facções em disputa nessa Guerra Civil: os cavaleiros e os cabeças redondas*.

Assim, a imaginação de equiparar as disputas da condução estratégica da Segunda Guerra Mundial pelos britânicos a um confronto entre alguém com a mentalidade de um cavaleiro (representado por Winston Churchill) e outro com a de um cabeça redonda (representado pelo Marechal Alan Brooke**, ou então, para quem não conheça este último, pelo seu protegido e muito mais conhecido, Bernard Montgomery) faz todo o sentido, mesmo que as divergências acontecessem 300 anos depois do fim da Guerra Civil… E talvez hoje ainda possam continuar a fazer algum sentido na maneira como se concebe as opçoes à sucessão de Tony Blair entre Gordon Brown e David Cameron…
Oliver Cromwell apareceu entre as fileiras dos que diziam defenderem a liberdade (o poder do parlamento) contra o poder discricionário régio de Carlos Stuart. Na realidade, sob o regime que veio a impor, concentrava no cargo que ocupava muitos mais poderes do que aqueles que o rei dispunha e que o haviam levado a juntar-se aos que enfrentavam. E quanto aos poderes do parlamento, em nome do qual havia sido desencadeada a insurreição que levara à Guerra Civil, haviam sido manipulados à custa de uma descarada intimidação militar sobre os parlamentares. Pior, mandara decapitar Carlos I. Mas o que mais incomoda em Cromwell é que suponho que ele representa o que mais se aproxima de um projecto britânico de poder pessoal.

Ora a língua inglesa faz uma distinção entre os cargos de chairman e de president, que em português se traduzem da mesma maneira: presidente. Só que o primeiro é um primeiro entre iguais que dirige uma reunião, como o primeiro-ministro britânico, o segundo, como acontece nos Estados Unidos, é aquele que encarna o poder. E o Reino Unido é um país de chairmans, enquanto Oliver Cromwell parece ter sido um exemplo perfeito de um president, naquele género que é muito apreciado em França, por exemplo, recordem-se as figuras históricas de Luís XIV, Napoleão, de Gaulle ou Mitterrand… Mas que não se encaixa de todo na história e nos valores que a sociedade britânica pretende defender…
Nota às imagens: É irresistível a ironia da gravura inicial deste poste onde Oliver Cromwell aparece retratado como se se tratasse de um monarca da época, como provavelmente seria a única forma que o autor da gravura conceberia que os poderosos fossem retratados. Além da estátua de Cromwell em Westminster, o carro blindado data da Segunda Guerra Mundial e a respectiva classe foi baptizada com o nome de Cromwell.

* Roundhead no idioma original.
** Sir Alan Brooke, Chefe do Estado-Maior Imperial (CIGS), durante a Segunda Guerra Mundial (1941-46).

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