25 fevereiro 2010

A CRISE POLÍTICA DESENCADEADA PELA OPERAÇÃO VENTO NORTE

Só mesmo maduros que se interessem pelos detalhes da Segunda Guerra Mundial é que já terão ouvido falar da Operação Vento Norte (Nordwind), a última Ofensiva dos alemães na Frente Ocidental que teve lugar em Janeiro de 1945. O local foi a Alsácia e o objectivo era a reconquista de Estrasburgo, a sua capital. Desencadeada com um frio intenso e sob a cobertura de um tempo nublado para impedir os Aliados de exercerem a sua superioridade aérea esmagadora, a ofensiva acabou por vir a fracassar.

Entretanto conseguira criar uma crise política entre os Aliados… Que se passara? Mesmo sem se ser especialista, com a ajuda dos três mapas abaixo, fica-se a perceber como o desenvolvimento da ofensiva da Nordwind estava a deixar a cidade de Estrasburgo (que aparece assinalada nos 3 mapas) numa situação exposta, ameaçada nos dois flancos pelas posições alemãs e passível de ser cercada. Qualquer manual de ciência militar recomendaria que se evacuasse a posição e foi isso mesmo que o General Eisenhower queria fazer.
O problema é que a posição a evacuar era uma cidade que se chamava Estrasburgo... Conquistada por Luís XIV para a França em 1681, perdida em 1871, recuperada em 1919, de novo perdida em 1940, as unidades militares francesas praticamente haviam acabado de chegar para a libertar: 23 de Novembro de 1944. Era impossível que o poder político francês aceitasse a decisão sem a contestar. O facto daquele poder ser à época protagonizado por uma pessoa como Charles de Gaulle deu ao episódio um retoque especial.

Antes da reunião, já de Gaulle telegrafara para Roosevelt e Churchill informando-os que não aceitaria o abandono da Alsácia e que ordenara às tropas francesas que tomassem à sua responsabilidade a defesa de Estrasburgo. Porém, o local da reunião é esclarecedor sobre as relações de poder entre os dois protagonistas: foi no gabinete de Eisenhower no SHAEF, então instalado em Versalhes. Tendo deixado memórias distintas da forma como decorreu a reunião os dois são unânimes quanto à violência do embate.
Para Eisenhower, a situação era clara do ponto de vista militar e, desse ponto de vista, a sua decisão era completamente inatacável. A isso adicionou que, para a precariedade da situação, contribuía a incapacidade das unidades do exército francês em conseguir eliminar a bolsa de Colmar de onde os alemães continuavam a ameaçar Estrasburgo pelo Sul, a que não seria estranho o facto dos franceses manterem essas unidades com os seus efectivos incompletos, ao contrário do que haviam prometido.

A esta descompostura do norte-americano deu de Gaulle uma réplica tipicamente francesa, reafirmando a sua disposição de defender Estrasburgo por tropas francesas, mesmo que fosse a custo de as fazer abandonar a cadeia de comando dos Aliados (Eisenhower). Os ânimos já estavam exaltados e este último não deixou de fazer notar ironicamente ao seu interlocutor que, sendo assim, as tropas francesas deixariam de receber reabastecimentos (alimentos, munições e combustível) o que as tornaria rapidamente inúteis.
Era demais para de Gaulle: – Em retaliação, a França, no seu furor, retiraria aos Aliados a utilização das suas redes de comunicações e de caminhos-de-ferro, elementos essenciais para a continuação das suas operações! A ameaça não deixava de ser patética depois de quatro anos de ocupação alemã quando o furor gaulês não conseguira fazer grande coisa para impedir a utilização que os ocupantes germânicos haviam feito daquelas duas redes, mas Eisenhower, mais do que um general, era sobretudo um gestor de equilíbrios.

Afinal Estrasburgo não chegou a ser evacuada nesse Inverno de 1945... Este episódio, que não passa de uma nota de rodapé da grandiosa epopeia que foi a Segunda Guerra Mundial, tornou-se porém num bom exemplo de como há circunstâncias excepcionais em que a potência hegemónica numa grande coligação (era então o papel dos Estados Unidos no SHAEF, que incluía também britânicos, canadianos, franceses, polacos, etc.) tem de tomar em consideração os interesses que os seus aliados consideram fundamentais…

2 comentários:

  1. "Le Grand Charles" nunca foi fácil de aturar... nem pelos aliados. Roosevelt bem o sabia!

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  2. Já os soviéticos davam uma importância diferente à dos seus aliados polacos.

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