22 maio 2007

A TENDÊNCIA DO PODER EM PORTUGAL PARA TOLERAR AS MANIFESTAÇÕES MANTEIGUERIAS MAIS PRIMÁRIAS (Actualizado)

É uma pena que ninguém ainda tenha inserido no You Tube, um famoso discurso de Salazar – creio eu que comemorativo do décimo aniversário do 28 de Maio – onde ele proclama, por assim dizer, os principais princípios doutrinários do estado novo. Nesse discurso, Salazar socorre-se de uma anáfora*, usando a expressão não discutimos. Para a sua concepção do regime, nele não se discutia Deus e a sua virtude, a pátria e a sua história, a família e a sua moral, a autoridade e o seu prestígio, entre muitas outras coisas. Imensas outras coisas…
Mas não é a ideologia do estado novo que pretendo aqui discutir, mas sim o término desse celebrado discurso onde, conforme se vê e escuta no filme que o regista, à pergunta final retórica feita por Salazar, querendo saber quantos estarão dispostos a segui-lo, se ouvem os manteigueiros ao seu lado na varanda do poder proclamando, sem que ninguém os mandatasse, a sua disponibilidade e a dos outros, com vários gritos de todoooos! entusiasmados e sabujos, antes dos gritos desaparecerem sob o barulho dos aplausos da praxe.

Eu gosto muito de Portugal, eu gosto muito de muitas coisas portuguesas e gosto de as defender daquelas opiniões derrotistas que consideram como em Portugal é tudo mau, mas tenho que reconhecer o meu embaraço quanto à falta de exigência (e consequente falta de qualidade) que sempre manifestámos pela actividade dos manteigueiros. Passaram mais de 70 anos sobre as imagens do famoso discurso de Salazar mas o grau de sofisticação dos que rodeiam Sócrates estará aproximadamente na mesma do círculo de Salazar: basta observar Pedro Silva Pereira…

Mais do que isso, em termos sociais, para além da condenação genérica da actividade e de algum desprezo pelos seus praticantes, raramente vejo críticas contundentes, concretas e oportunas à prática. Só me lembro de uma situação digna de relevo: foi no primeiro episódio de O Tal Canal de Herman José, onde o director do Canal, Oliveira Casca (o próprio Herman) fazia o discurso inaugural da estação, enquanto o locutor (Vítor de Sousa) repetia metodicamente e em surdina todo o discurso, até que Oliveira Casca censurou, no seu discurso, os locutores que tentam repetir ipsis verbis os discursos proferidos…

É por falar em críticas concretas que demonstro a minha perplexidade pelo tempo decorrido depois do aparecimento da notícia do professor da DREN que terá sido sancionado pela respectiva directora regional por ter dado publicidade às piadas sobre a famosa licenciatura do primeiro-ministro José Sócrates. Essencialmente como aconteceu com todo o resto dos portugueses que prestaram atenção ao assunto e que as contaram ou as ouviram. É que, ao contrário da precedente, na actividade de inventar anedotas políticas, Portugal é um país de vanguarda…

É que os dias vão passando sem que seja desmentido o teor da notícia da sanção ao professor da DREN ou desautorizada a respectiva senhora directora…São esses atrasos, como aconteceu aliás com o próprio caso da licenciatura agora anedótica, é que transformam os farsolas em problemas políticos… E, normalmente, isso acontece por causa dos manteigueiros

* Anáfora: figura de estilo que consiste em repetir a mesma palavra ou expressão no principio de várias frases.

NOTA: Um agradecimento especial à Shyznogoud que me informou que boa parte do discurso de Salazar referido no poste está afinal disponível no You Tube.

2 comentários:

  1. Não será este o discurso a q alude?


    http://www.youtube.com/watch?v=hDQsxjX21Q8

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  2. Obrigado, shyznogoud. É um excelente auxiliar embora fique a faltar aquela preciosa parte final, incontornável para a história do sabujismo manteigueiro em Portugal...

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