28 maio 2007

A CONTRIBUIÇÃO DA COTAÇÃO DO BARRIL DE PETRÓLEO NA NOVA ORDEM MUNDIAL

Mesmo depois da conjugação de incidentes que fizeram com que o petróleo tivesse atingido no Verão de 2006 a fasquia dos 80 dólares/barril, é prudente concluir que está difundida uma percepção generalizada que no futuro próximo haverá uma pressão constante na procura do produto, causada sobretudo pelas necessidades crescentes das economias chinesa e indiana, o que torna improvável o regresso das cotações do barril a valores oscilando à volta dos 50 dólares ou mesmo abaixo disso, como se anunciava expectável há poucos anos atrás.
A evolução da cotação do barril de petróleo no último ano, visível no quadro acima, mostra que, contornando momentos circunstanciais de alta (Julho de 2006) ou baixa (Janeiro de 2007) nos preços, ela se tem situado sensivelmente no meio do intervalo entre os valores de 60 e 70 dólares. E isso equivale a dizer que os países exportadores de petróleo estão a viver momentos de alguma prosperidade relativa, assim como estão com perspectivas risonhas para o seu futuro económico próximo. E isso tem-se reflectido de alguma forma no comportamento em política internacional de alguns deles.
Observando a lista ordenada desses países, os casos mais exuberantes são os do Irão (4º lugar) e da Venezuela (8º). Outros, pelo contrário, são tradicionalmente discretos, como a Arábia Saudita (1º), os Emiratos Árabes Unidos (6º) ou o Koweit (7º). Há ainda outros que são, ou um enigma, como a Nigéria (5º), ou uma verdadeira surpresa, como a Noruega (3º)! Mas nenhum destes países dispõe dos recursos complementares para poder desenvolver uma capacidade de influência estratégica global baseada no contrôle do acesso aos recursos energéticos como parece ser cada vez mais o caso da Rússia (2º lugar).
É hoje um episódio esquecido da Guerra-Fria a forma como os Estados Unidos tentaram, sob a administração de Jimmy Carter (1977-81), condicionar também o comportamento do seu grande adversário no seguimento da invasão do Afeganistão (1979), estabelecendo um embargo à venda de cereais à União Soviética (de Janeiro 1980 a Abril 1981). O gesto acabou por não ter consequências para os soviéticos porque os concorrentes naquele mercado dos norte-americanos, apesar de seus aliados (o Canadá, a Europa e a Austrália), se precipitaram para o vazio comercial deixado por eles.
De todo o episódio extraiu-se a lição das limitações da eficácia do uso dos embargos ao comércio de matérias-primas, mesmo quando sejam decretados por superpotências… Por um lado há sempre o efeito da concorrência e, por outro, não se podem subestimar as interdependências que se estabelecem entre produtores e consumidores: os agricultores norte-americanos, a quem foi preciso pagar para não produzir, contaram-se entre os que mais maciçamente votaram em Reagan nas eleições de 1980… Terá Putin clientes alternativos para os mais de 6 milhões de barris de petróleo que agora exporta diariamente?

2 comentários:

  1. A Rússia com o seu presente crescente demográfico vai cada vez menos precisar de cereais vindos de onde quer que seja.

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  2. A referência ao boicote feito pelos USA à URSS quanto à venda de cereais foi apenas instrumental para chamar a atenção quanto os boicotes se podem revelar ineficazes quando não se tem o controle do mercado…

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