26 maio 2007

DA NEVE PARA O GELO

A notícia que me chamou a atenção para o assunto está numa pequena inserção perdida na página 70 da revista The Economist, e é mais um daqueles aspectos ridículos deste mundo de que só se aproveita a boa disposição que provocam: com o povão (de todas as nacionalidades) a invadir tudo o que são estâncias de ski em todos os países, em todos os hemisférios, houve que renovar o conceito de férias frias, que antes estavam reservadas a uma certa elite privilegiada. Agora, o que está a dar é… Groenlândia.
Não é neve mas é gelo, e o pacote turístico incluirá, com certeza, uma demonstração sentida de preocupação pelo fenómeno do aquecimento global do planeta, visível na alteração do ritmo dos degelos locais, substituindo assim em preocupação intelectual o que anteriormente era preciso demonstrar em destreza física nas pistas de ski. Segundo a mesma notícia, uma cidade perdida como Ilulissat com 5.000 habitantes, recebeu 15.000 visitantes no ano passado e conta receber o dobro já este ano.
Entre a galeria dos que já foram ou tencionam ir, conta-se John McCain, o candidato presidencial norte-americano, e Nancy Pelosi, a presidente do Senado, Romano Prodi, primeiro-ministro italiano e a chanceler alemã Ângela Merkel. E, adivinharam, para que os portugueses se orgulhem de ter um dos seus nestas galerias pueris (seria nisto que Jorge Sampaio estava a pensar quando mencionou o assunto na altura?), também o presidente da comissão europeia anunciou estar a fazer planos para conhecer a Groenlândia…
É evidente que este afluxo crescente de turistas, que a presença dos próprios políticos contribui para popularizar, é um factor que acelera ainda mais os efeitos locais do processo de aquecimento global que alegadamente os preocupa e que ali vêm testemunhar e denunciar… Mas isso são aquelas contradições cujo carácter benigno imediato da matéria as torna, felizmente, num assunto ridículo e risível. É como a limousine e o avião particular em que Al Gore viaja à volta do mundo para o salvar

5 comentários:

  1. Certeiro e excelente, como de costume.

    ResponderEliminar
  2. Ora aqui está mais um potencial ”hot spot” digno de uma verdadeira novela brasileira. É território Dinamarquês, disputado pela Noruega. Os Dinamarqueses têm que ”exportar” a sua população (que já de si säo muito poucos) para garantir um mínimo de permanência territorial (alem dos Inuits), como tal serviço militar é no frigorífico, tive a oportunidade de ter tido um exercicio de "team building" no ano passado por essas paragens,... ainda dizia eu mal de Sta Margarida.
    Os Americanos estabeleceram as suas bases militares a la Açores e os Canadianos cobiçam a zona económica exclusiva principalmente no que toca a pescas.
    Verdadeiramente, só falta encontrar petróleo, e teremos cena do costume…!!

    ResponderEliminar
  3. Grande novidade me contas, Freitas!... Contenciosos territoriais entre países escandinavos? Que os finlandeses tenham inveja dos suecos, já me constou… Mas creio que os finlandeses, com aquela língua típica deles, até nem são verdadeiros escandinavos…

    Vistos desta outra ponta da Europa, os países escandinavos passam por ser modelos de educação e civismo nas relações recíprocas (tirando pequenas picardias desportivas ou outras, evidentemente…), que se separam com toda a civilidade (a Noruega da Suécia em 1905) e sem necessidade do recurso a guerras de independência… – como Portugal teve que fazer com a Espanha em 1640. Suprema prova de boa vizinhança nos tempos modernos e na época da criação das companhias aéreas nacionais, a SAS é o único caso que recordo de uma companhia aérea de bandeira com MAIS de uma bandeira: dinamarquesa, norueguesa e sueca (por ordem alfabética…). Coisa inédita na Europa: belgas e holandeses até se juntaram no Benelux mas a KLM era uma coisa e a Sabena outra…

    E no fim de toda esta fraternidade vens-me dizer que a Noruega cobiça a Groenlândia à Dinamarca? E nós que, no resto da Europa, considerávamos os vikings guerreiros ferozes mas nunca lhes investigámos os “certificados de origem”?...

    Abraço

    ResponderEliminar
  4. ...uma das coisas que aprendi (ou antes ensinaram-me)aqui na Suécia foi para parar de usar indiferentemente os termos Escandinavo e Nordico. O primeiro diz respeito somente à Dinamarca, Noruega e Suécia. Já o segundo inclui também a Finlandia e a Islandia.

    Apesar de nunca rangerem os dentes uns aos outros, é formidável assistir a autênticas sessões de história durante um bom jantar regado a "aquavit" e perfume de cachimdo,... verdadeiramente civilizado!

    Curiosamente, os Dinamarqueses ainda chamam hoje em dia "antiga Dinamarca" ao sul da Suécia.
    Se a moda pega em Portugal, ... a região de Olivenza ficaria a ser carinhosamente conhecida como "Portugal antigo"!!
    Mas isso é outra história.

    ResponderEliminar
  5. Obrigado pelo esclarecimento quanto à precisão da expressão escandinavo: julgava-a cultural (o que excluíria a Finlândia, mas não a Islândia) e não geográfica, como afirmas.

    Quanto à maldade de virmos a tratar Olivença por Portugal antigo... não precisamos, é conversa corrente quanto o galego é mais parecido com o português do que com o castelhano...

    ResponderEliminar

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.