
Os blues serão as fardas azuis dos polícias de uma esquadra de uma zona pesada de uma grande cidade norte-americana que nunca é nomeada. Para além de novas técnicas de filmagem (a câmara parece pertencer a um operador de televisão que procura seguir os vários acontecimentos que se desenrolam simultaneamente na esquadra) e o ritmo da história permanece frenético desde a reunião inicial das seis da manhã até à noite e à mudança de turno.
Sobretudo o que para mim é mais interessante é o aspecto sociológico dos bairros da área de intervenção da esquadra. Depois de terem passados décadas (50 e 60) a fingir que a América era composta apenas por americanos de classe média - como o Dick Van Dike Show e as suas sequelas que passaram em Portugal ou em Bewitched (Casei com uma Feiticeira) – as séries de televisão vêm a fazer uma inflexão na década de 70 (All in the Family) até chegarem finalmente aos seus guetos urbanos.
E a sociedade urbana norte-americana onde evolui a acção de Hill Street Blues não parece ser a american way pela qual o Super-Homem se dizia bater*… São guetos e respectivos gangs de negros onde se dissolvem alguns brancos pobres de origem rural, todos fruto do êxodo para a cidade provocado pela mecanização da agricultura a que se juntam os guetos e gangs dos hispânicos, fruto de um fenómeno semelhante do outro lado da fronteira meridional dos Estados Unidos.
Numa época em que na América o espírito era o de um gigantesco acto de contrição – ver poste imediatamente abaixo – a gigantesca falta de solidariedade colectiva que ali era mostrada pela sociedade americana (entre outras séries aparentadas), quando em comparação com os esforços de integração e solidariedade desenvolvidos ao mesmo tempo pelas sociedades europeias, contribuiu para pôr em causa se o modelo social americano deveria continuar a ser a referência do que na altura se designava por mundo livre.
Estava guardada para daí a 25 anos, com os motins das comunidades imigradas em França de 2005, a hipótese de que, afinal, não havia nenhum modelo satisfatório para a integração das comunidades socialmente excluídas… E há que reconhecer que este poste de nostalgia televisiva teve muito pouco… Prometo voltar às rosnadelas do sargento Belker, às obtusidades do tenente Howard Hunter, e ao tradicional conselho avuncular do sargento Phil Esterhaus: Hey, let's be careful out there!**
* O Super-Homem batia-se for truth, for justice and for the american way (pela verdade, pela justiça e pelo modo americano – de organizar a sociedade, deduz-se…)
** Vamos lá a ter cuidado!
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