27 dezembro 2006

TV NOSTALGIA – 24

Entre as séries de culto da TV que ainda não foram editadas em DVD traduzidas para português – se calhar, ainda bem, porque há mais natais… - conta-se a série policial Hill Street Blues de 1981, traduzida entre nós – não muito apropriadamente - para Balada de Hill Street. Considero a música do genérico muito bonita, o próprio genérico é excelente, mas pouco mais lá haverá que se assemelhe ao género baladeiro.

Os blues serão as fardas azuis dos polícias de uma esquadra de uma zona pesada de uma grande cidade norte-americana que nunca é nomeada. Para além de novas técnicas de filmagem (a câmara parece pertencer a um operador de televisão que procura seguir os vários acontecimentos que se desenrolam simultaneamente na esquadra) e o ritmo da história permanece frenético desde a reunião inicial das seis da manhã até à noite e à mudança de turno.

Sobretudo o que para mim é mais interessante é o aspecto sociológico dos bairros da área de intervenção da esquadra. Depois de terem passados décadas (50 e 60) a fingir que a América era composta apenas por americanos de classe média - como o Dick Van Dike Show e as suas sequelas que passaram em Portugal ou em Bewitched (Casei com uma Feiticeira) – as séries de televisão vêm a fazer uma inflexão na década de 70 (All in the Family) até chegarem finalmente aos seus guetos urbanos.

E a sociedade urbana norte-americana onde evolui a acção de Hill Street Blues não parece ser a american way pela qual o Super-Homem se dizia bater*… São guetos e respectivos gangs de negros onde se dissolvem alguns brancos pobres de origem rural, todos fruto do êxodo para a cidade provocado pela mecanização da agricultura a que se juntam os guetos e gangs dos hispânicos, fruto de um fenómeno semelhante do outro lado da fronteira meridional dos Estados Unidos.

Numa época em que na América o espírito era o de um gigantesco acto de contrição – ver poste imediatamente abaixo – a gigantesca falta de solidariedade colectiva que ali era mostrada pela sociedade americana (entre outras séries aparentadas), quando em comparação com os esforços de integração e solidariedade desenvolvidos ao mesmo tempo pelas sociedades europeias, contribuiu para pôr em causa se o modelo social americano deveria continuar a ser a referência do que na altura se designava por mundo livre.

Estava guardada para daí a 25 anos, com os motins das comunidades imigradas em França de 2005, a hipótese de que, afinal, não havia nenhum modelo satisfatório para a integração das comunidades socialmente excluídas… E há que reconhecer que este poste de nostalgia televisiva teve muito pouco… Prometo voltar às rosnadelas do sargento Belker, às obtusidades do tenente Howard Hunter, e ao tradicional conselho avuncular do sargento Phil Esterhaus: Hey, let's be careful out there!**

* O Super-Homem batia-se for truth, for justice and for the american way (pela verdade, pela justiça e pelo modo americano – de organizar a sociedade, deduz-se…)
** Vamos lá a ter cuidado!

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