05 dezembro 2006

O CABEÇALHO

Um dos problemas que considero mais desagradáveis no jornalismo escrito é que, quando existe um conflito manifesto entre o rigor e o cabeçalho mais apelativo, numa esmagadora maioria das vezes é o primeiro o sacrificado. Acrescente-se a isso a convicção de que existe uma propensão nacional para viver com gozo o martírio das comparações europeias – a famosa cauda da Europa.

Ficam assim reunidos os ingredientes para um artigo no Diário de Notícias com um título (Portugal é o país que mais corta salários desde 2000) que, além de apenas estar parcialmente associado ao seu conteúdo (acessoriamente, nota-se nele uma forte fragrância de encomenda governamental), parece ser falso, porque é logo descaradamente desmentido no primeiro parágrafo do mesmo com a menção do exemplo austríaco.

Eu bem suspeito como será desagradável aos profissionais do jornalismo sentirem-se assim associados a uma atitude geral de falta de rigor, mas também suspeito quanto os profissionais de disciplinas em que o rigor seja primordial (nomeadamente as científicas) se queixam como os temas das suas áreas de investigação acabam completamente deturpados nos jornais no altar da causa de se tornar o assunto mais interessante para o leitor.

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