
É neste enquadramento que se tornaram mais importantes aqueles acontecimentos que contrariaram aquela corrente dominante, em especial os conflitos – ou suas fases – de onde as potências europeias saíram inequívoca e confessadamente derrotadas por países alheios a esse clube selecto. Ocorridos em décadas consecutivas, vale a pena relembrar os episódios de Adowa (1896), Tsushima (1905) e Galipoli (1915). Ainda hoje, se nota que os vencedores de cada um deles (a Etiópia, o Japão e a Turquia) gozam de um prestígio adicional por se terem oposto à hegemonia do homem branco.
Adowa (figura acima) foi uma batalha decisiva do conflito que opôs o exército colonial italiano e as forças etíopes na Primeira Guerra Ítalo-Abissínia (1895-96), quando os primeiros tentaram estender ao país dos segundos o seu Império Colonial africano. Inesperadamente, o superior enquadramento dos exércitos coloniais europeus, que lhes permitia derrotar inimigos que dispunham de mais do quádruplo dos seus efectivos*, fracassou neste caso com o exército italiano, e as suas formações desagregaram-se. A Etiópia conseguiu preservar a sua independência (o único estado africano a fazê-lo) - até à próxima Guerra Ítalo-Abissínia (1935-36)...


Do ponto de vista militar, creio que seria difícil juntar três batalhas mais distintas: houve uma batalha terrestre colonial clássica de desfecho inesperado, uma batalha naval clássica (o exemplo escolar da batalha dos couraçados movidos a carvão) e uma das mais extensas operações anfíbias montadas até então – associando aspectos terrestres e navais. Comentá-las mereceria um poste exclusivo para cada uma. O que as une é um outro aspecto completamente distinto: a exploração política que foi feita do seu desfecho por parte dos seus contendores. Etiópia, Japão e Turquia eram, depois delas, países com outro ânimo e com outro estatuto. Estes exemplos tornam límpido o que Clausewitz teria querido dizer quando escreveu, muitos anos antes destes acontecimentos, que a guerra era a continuação da política por outros meios.
*Estima-se que seriam cerca de 20.000 do lado italiano contra cerca de 100.000 (dos quais 80.000 armados com armas de fogo) do lado etíope.
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