16 março 2020

ZÉLIA E A APRESENTAÇÃO DO PLANO COLLOR

16 de Março de 1990. No dia anterior Fernando Collor de Mello tomara posse como presidente do Brasil, o primeiro presidente eleito por voto popular em 29 anos. E que trazia consigo um plano (que naturalmente ganhou o nome de Plano Collor), um plano económico e financeiro visando sobretudo o controlo da hiperinflação que se tornara a norma da economia brasileira: no ano anterior ao da posse de Collor (1989) a inflação no Brasil fora, em média, de 29% por mês(!). Mas a grande novidade do plano, era a identidade da pessoa encarregue de o implementar, uma economista de 36 anos chamada Zélia Cardoso de Mello, uma mudança de estilo radical para um Brasil onde muitos ainda sonhariam com o ministro da Fazenda providencial que iria disciplinar finalmente umas finanças estruturalmente indisciplináveis. Coisa que nem Delfim Netto, nem nenhum sucessor seu sob a ditadura militar, o conseguira. Esgotada o estilo durão, a ideia parecia ser a de que o género da ministra poderia deflectir uma boa parte das críticas, já que o que a nova ministra vinha apresentar aos brasileiros não era de molde a granjear grandes simpatias.
O Plano Collor, porque previa o congelamento dos depósitos bancários a partir de um determinado montante, recebeu automaticamente uma outra designação: a de confisco. A desmonetarização brusca da economia provocava imensos incómodos a uma população que não se mostrava nada disposta a passar por eles. A recepção mediática às medidas anunciadas por Zélia há trinta anos não foram nada suaves. E a sua condição feminina de nada terá servido afinal para dissuadir a dureza da forma como lhe pediam esclarecimentos. Aí, a habilidade da nova ministra à frente das câmaras veio a revelar-se um desastre total. Quando alguém tem algo de desagradável para transmitir e não consegue ser naturalmente simpática (era o caso...), pelo menos tem que se mostrar competente - os espectadores podem detestá-la, mas respeitam-na. Não foi isso que aconteceu. Zélia não conseguiu fazer passar em televisão a mínima mostra de empatia pelos incómodos que o seu plano causava. Pior, parecia pairar por cima dos detalhes dos aborrecimentos que o congelamento dos depósitos do plano causava. Foi um fiasco e não apenas do ponto de vista da comunicação.
Ao Plano Collor veio a suceder-se o Plano Collor II em finais de Janeiro de 1991, dando um sinal de que nem ao menos os objectivos económicos e financeiros do plano inicial estavam a ser alcançados. E mais três meses depois, em Maio de 1991, o segundo plano era substituído, conjuntamente com a ministra da Fazenda, que passara pela pasta meteoricamente por quatorze meses. Mas Zélia Cardoso de Mello deixou, da sua passagem pela política, um rasto de antipatia que o tempo demora a apagar. Este último vídeo, em que fazem troça de si, é de programa transmitido em 2005, ou seja 15 anos depois das explicações muito mal recebidas a respeito do plano de que hoje se assinala o 30º aniversário.

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