06 março 2020

SE «OS ÓCULOS» SÃO DE ANDRÉ VENTURA, QUEM É QUE FORNECE «AS ARMAÇÕES»?

Na edição de hoje do Público, aparece o artigo de opinião acima, assinado pela antiga directora do jornal, Bárbara Reis. Porque o conteúdo do mesmo é exclusivo para os assinantes, é preferível que eu o sintetize, deixando o benefício de poder ler o original para aqueles que sejam assinantes. Como se deixa antever pelo subtítulo, a estrela é o deputado do Chega, e a colunista dedica-se ao exercício de seleccionar um robusto conjunto de notícias da actualidade (1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8) (9) (10) (11) (12) a que dá o mesmo género de tratamento tremendista que tanto popularizou André Ventura. A ironia subjacente é que os tópicos que foram escolhidos por Bárbara Reis são precisamente aqueles que André Ventura prefere nem lhes tocar: as podridões do futebol, nomeadamente as do Benfica, as broncas envolvendo despotismo e corrupção policial, ou então a corrupção de pequena escala nas autarquias (Ventura gosta de denunciar a GRANDE corrupção - com excepção da do Benfica, da qual não fala...).

A conclusão de Bárbara Reis é cristalina: o estilo - que ela designa por "enviesamento da negatividade" - é facílimo de copiar. Até este momento do texto, eu estava completamente de acordo com o que ia lendo. Só que depois, na identificação do elenco que o pratica, eu deixo de me sintonizar com Bárbara Reis. Até posso acompanhá-la na sua descrição, que vai de baixo para cima, do «tom usado e abusado» que se estende «dos taxistas até às elites», mas constato a ausência, contornante, de uma referência aos seus colegas jornalistas, tanto mais quando a sua demonstração se alicerça num encadeado de notícias que percebemos temperadas para desencadear o ultraje do leitor. Ou, pegando-lhe na metáfora, se «dos taxistas às elites» é comum que haja quem veja as coisas pelos «óculos de André Ventura», será Bárbara Reis capaz de me dizer quem serão os maiores responsáveis por fornecer as «armações» para tais «óculos»?

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