13 julho 2017

OS SENADORES MAUS e OS SENADORES BONS ou então OS «ULEMÁS»

Quando acompanhado em continuidade já se sabe que não se pode classificar José Manuel Fernandes como um modelo de coerência. Vêmo-lo aqui abaixo, há menos de três anos, a renegar o conceito de senador e a utilidade de debater as ideias das venerandas figuras caso ele fosse aplicado a uma pessoa como Diogo Freitas do Amaral. Hoje, em contraste, podíamos vê-lo como num êxtase a prestar um tratamento deferencial a António Barreto que desempenha no happening do Observador um papel que não se iria distinguir particularmente da entrevista de Freitas do Amaral que lhe suscitara tão antipática reacção em 2014. Pelos vistos, ele haverá senadores que dizem coisas de que José Manuel Fernandes gosta, enquanto para ter senadores dos quais discorda ele «preferirá os plebeus». Se houvesse um Senado mesmo a sério e ele fosse constituído à imagem dos desejos do publisher do Observador seria uma câmara de gente idosa, decerto, mas também um bocadinho facciosa, ou não será?...
O resultado da entrevista, dada por António Barreto ao Observador, que aparece condensada num encadeado de tweets (a fazer lembrar os processos modernaços agora tão popularizados por Donald Trump...), é um resultado interessante mas dela não se poderá dizer que contenha grandes novidades que justificassem o êxtase prévio de José Manuel Fernandes. Ainda no princípio do mês de Junho passado, António Barreto dera uma outra entrevista ao Expresso que pouco se diferencia desta de hoje. Ninguém, nem mesmos estes senadores (os que agradam a José Manuel Fernandes...) pensará em catrefas de ideias novas e interessantes a cada mês que passe. Por isso, as entrevistas mimetizam-se, desde a descrição dos antigos períodos de há 40 anos, logo depois do PREC, em que houve necessidade da rectificação dos excessos da Reforma Agrária, até à antipatia e desconfiança veemente de António Barreto pelos comunistas, que condiciona a forma como aprecia a situação política actual, a famigerada geringonça.
Mas o que acho mais irónico de todas estas entrevistas, assaz repetitivas e previsíveis, a pessoas com o perfil de retirados a quem prestam atenção de menos (ou então de mais...), é o hábito de qualificar pessoas com aquelas características por senadores. Trata-se de um tratamento de cortesia, visto que as pessoas assim designadas, para além do respeito propiciado pela idade e sabedoria acumulada, na verdade não têm quaisquer responsabilidades legislativas. Ora, não fosse o nosso eurocentrismo e a nossa aversão por conhecer outras civilizações que não a Ocidental e estas pessoas sábias e de pensamento fortemente conservador poderiam ser muito mais exemplarmente tratadas informalmente por ulemás (acima). O Ulemá aparece definido na respectiva página da wikipedia como «um teólogo ou sábio e versado em leis e religião, entre os muçulmanos». Entre os sunitas, a importância de um ulemá é informal e é função da sua audiência e do respeito que suscita entre a comunidade dos crentes, qual espécie de rating da audiência televisiva moderna. No caso concreto de António Barreto até se pode acrescentar que ele tem uma barba a condizer...

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