15 março 2011

PELA FRENTE DE UM GRANDE HOMEM ESTÁ SEMPRE UMA GRANDE MULHER

O que é costume dizer-se é que, por detrás de um Grande Homem, está sempre uma Grande Mulher. Contudo, na fotografia abaixo, a Grande Mulher (Raísa) aparece adiante e não atrás do Grande Homem (Mikhail Gorbachev). Aliás, é ela que ainda acena enquanto o marido já está a pôr o chapéu e a preparar-se para entrar no avião. Como em muitos outros aspectos da vida política tardia deste último Secretário-Geral do PCUS¹, também esta fotografia parece ser uma subversão das tradições herdadas, tradições essas (abaixo) para as quais, qualquer bom comunista sempre tivera que mostrar uma devoção religiosa
Mikhail Gorbachev conseguiu romper aquele entendimento tácito entre a Informação do Leste e do Ocidente que impedia a divulgação daqueles pormenores de personalidade que tornassem simpáticos os dirigentes soviéticos aos ocidentais mas que, ao mesmo tempo, pudessem ser tidos a Leste como sinais de uma certa cedência ideológica (veja-se este poste). E Raísa adaptou-se com gosto (e proveito) àquela lógica norte-americana de dar um destaque informativo desmesurado aos cônjuges dos reais protagonistas. Apareceu um novo campo de disputa – o da fotogenia – na rivalidade global da Guerra-Fria
Pela primeira vez, no meio das costumeiras proclamações de amizade pessoal (já em 1973 Nixon convidara Brejnev para a sua própria casa…), os soviéticos iam à luta e não se saíam nada mal do confronto, como se observa pela fotografia acima. Conhece-se o resto da história. O sucesso dos Gorbachev no estrangeiro não foi acompanhado de um sucesso doméstico equivalente. As políticas de reforma (Perestroika) lançadas pelo dirigente soviético vieram a revelar-se um fiasco e os próprios fundamentos do império soviético começaram a vacilar acabando com a implosão da União Soviética em 1991.
Tendo contribuído para o fim da Guerra-Fria, Mikhail Gorbachev não é um dos Grandes Homens consensuais do nosso tempo, como um Nelson Mandela, por exemplo. Uma ampla maioria dos russos e os comunistas ortodoxos filo-russos de além fronteiras detestá-lo-ão, porque ele encarna o desmoronamento do império e a exposição das suas insuficiências. Vale a pena rematar que foi Raísa, por uma última vez, a responsável pela criação de umas tréguas na hostilidade da opinião pública russa para com o marido quando faleceu prematuramente com leucemia em Setembro de 1999, aos 67 anos (acima).

¹ A afirmação não está totalmente correcta. Durante o famoso Golpe de Agosto de 1991 que pretendeu derrubar Gorbachev, por cinco dias o cargo foi ainda ocupado por Vladimir Ivashko, para depois ser extinto.

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