29 março 2011

SOROR JOANA INÊS DE LA CRUZ

Entre as grandes figuras de cultura do Século XVII de origem ibero-americana, vale a pena contar os aspectos exóticos de Soror Joana Inês de La Cruz (1648-1695). Joana foi uma das filhas de uma relação entre um militar de origem basca destacada no México e de uma crioula – note-se que na América espanhola a classificação de crioulo se refere a alguém de ascendência exclusiva ou predominantemente europeia nascida localmente.

Por muito que eles tenham vindo a ser embelezados posteriormente, os relatos da sua infância parecem demonstrar que Joana era aquilo que actualmente se designa por uma criança sobredotada. E Joana nascera numa família (materna) que lhe podia propiciar os meios para satisfazer a sua curiosidade intelectual – terá aprendido por si a ler usando os livros da biblioteca do avô, adereço que naquele tempo não estava ao alcance de todos.

Por ter nascido numa sociedade colonial como a do México, a condição de ilegítima de Joana não se reflectiu num rebaixamento do seu estatuto social como teria acontecido certamente em Espanha. Foi aceite na Corte do Vice-Rei onde impressionou a ponto de se tornar dama de companhia da Vice-Rainha. Forçada a ser autodidacta (os estudos superiores estavam vedados às mulheres), veio a tomar votos na Ordem das Jerónimas.

Era difícil que Joana descobrisse uma alma gémea naqueles meios, que também não lhe impunham casamento: sua mãe tivera seis filhos de duas ligações sem se casar, uma das suas irmãs também. As condições em que a Ordem a autorizava estudar, escrever e receber visitas eram praticamente as mundanas. Possuía empregadas ao seu serviço. E Joana aceitava encomendas, daí o carácter heterogéneo das suas obras literárias.

Tendo sido excelente em tudo o que fazia, a vida de Soror Joana teve o ingrato resultado de nunca se poder tornar marcante porque a sua figura terá sido demasiado precoce para o tempo em que viveu. Simbólica e significativamente, o retrato pelo qual é mais frequentemente conhecida (acima) só foi pintado 50 anos depois da sua morte. Os mexicanos prestam-lhe a homenagem de a ter a ilustrar uma das suas notas de banco.

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